Crítica: The Flight Attendant - Primeira Temporada
- Clara Ballena
- Jul 28, 2021
- 3 min read
The Flight Attendant, nova série do estreante streaming HBOMAX, com 8 episódios de aproximadamente 40 minutos cada, surpreende com sua narrativa investigativa, mas peca em alguns furos em seu roteiro, sendo apenas salvo pelas atuações do elenco de peso. Se considerando como um Thriller de humor, a série, já com renovação para uma segunda temporada, teve indicações ao Emmy 2021, entre elas nas categorias melhor série de comédia e melhor atriz.

A trama acompanha a personagem Cassie Bowden (Kaley Cuoco), uma comissária de bordo com problemas alcoólicos, que, após ter uma agitada noite com um desconhecido passageiro de voo para Bangkok, acorda no dia seguinte com o corpo do passageiro ao seu lado e sem memórias da noite anterior. Decidida a descobrir quem o matou, Cassie correrá contra o tempo para resolver o mistério e se inocentar.
Conhecida principalmente por seu papel em “The Big Bang Theory", a atriz assume a Cassie uma personalidade que mescla com seu passado sombrio, recaídas ao álcool e ao humor protetor. Ao longo da série, ela mostra sua potência dramática, trazendo cenas de tensão e desespero para uma personagem carregada de traumas, mas sem perder algumas caricaturas de comédia.
Outros personagens presentes na narrativa se apresentam como auxiliares e/ou conflitantes, isso é, aliados e/ou inimigos da protagonista. Alex (Michiel Huisman) serve como par romântico imaginário e conselheiro para Cassie, tendo apenas interações em sua imaginação, que dialoga com o ser imaginário que lhe foi criado, e não como o personagem em si (afinal, sem spoilers, já está na sinopse, ele morre no primeiro episódio, retornando apenas no imaginário mirabolante e realista de Cassie); Annie (Zosia Mamet) inicialmente se apresenta como uma forte aliada de Cassie, sendo uma guia e advogada, No decorrer dos episódios, Annie passa a ter sua própria trama e problemáticas geradas ao ajudar sua melhor amiga; Davey (T.R. Knight) surge para apresentar a trama familiar da protagonista, sendo um irmão distante que possui uma visão completamente diferente da infância que ambos viveram.

Outra personagem que se apresenta como aliada, mas é um dos pontos fracos da série, é a jornada da personagem Megan (Rosie Perez), que, assim como sua colega, acaba se enfiando em uma investigação perigosa. A problemática da narrativa da personagem nem se dá pela atuação de Rosie, e sim pela personalidade rasa dada a personagem, que, sem qualquer motivo específico, seja ele pessoal ou narrativo, entra na trama sem lógica. Se retirasse o arco da personagem, ou até a mesma, a narrativa principal ainda teria total sentido, e não se perderia tempo com cenas exageradamente extensas para uma personagem que em nada acrescenta.
Em contrapartida, temos Miranda (Michelle Gomez) que percorre um caminho entre aliada/inimiga de modo natural, tornando as cenas entre Cassie e Miranda um dos pontos mais altos da série. A personagem é cativante, e a atriz sabe muito bem transmutar entre esses dois parâmetros no seu relacionamento com a protagonista.
A série se propõe a trazer um excelente protagonismo feminino, mas decai com um roteiro que confunde em sua próprias regras e coloca a protagonista a cometer uma série de decisões que apenas servem para piorar sua situação, como se ela cometesse as piores e mais imprudentes escolhas, apenas para a trama fluir. Suas decisões são tomadas na base da correria e desespero, que, até poderiam dar uma maior naturalidade e talvez humanizar a personagem devido a situação anormal que ela está vivenciando. Mas, quando se faz isso em modo sequencial até o final da trama, com o simples propósito da protagonista tomar as atitudes que poderiam facilmente ser evitadas pela mesma, cria uma sequência sem fim de burradas que, ao invés de humanizar, irritam o telespectador.

A direção consegue guiar a narrativa de forma fluida, a trilha relembra clássicos do tema, e a edição consegue se diferenciar ao colocar personagens em cena divididos por quadros ou formatos diferentes. Fica clara a homenagem aos clássicos, e a narrativa sabe se utilizar dela, isso sem deixar de se inovar.
The flight attendant é uma excelente maratona para aqueles fanáticos por mistérios e que se interessam em uma narrativa que, não se fixa no drama, mas também não o destrata. Seja para solucionar os mistérios junto com a protagonista que nos irrita, mas nos cativa pelas mil facetas da atriz. É uma série que pode sobressair ao olhar de muitos, ou se tornar mediana aos mais exigentes.
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