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" 7 Prisioneiros": Brutal, Real e Necessário.

Representando uma realidade cruel e desumana, “7 Prisioneiros”, filme brasileiro lançado pela Netflix no dia 11 de novembro de 2021, prende o público com uma narrativa impactante, mesmo quando acaba fugindo de seu tema proposto.


A história acompanha Matheus (Christian Malheiros) que junto com 3 amigos, aceitam a oportunidade de sair de suas casas no interior e trabalhar na capital paulista, em busca de uma vida melhor. Chegando lá, eles começam a perceber que foram enganados, se tornando trabalhadores escravos em um ferro-velho comandado por Luca (Rodrigo Santoro).

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Mostrando uma São Paulo diferente, o filme foge dos cenários tradicionais da cidade, mostrando sempre o ponto de vista dos personagens diante a capital, onde eles observam o luxo dos grandes prédios sempre a distância, enquanto vivenciam diretamente a pobreza e escravidão escondida em becos sem saída.


Apesar do título demarcar o conjunto dos prisioneiros e a trama inicial partir da perspectiva simultânea desses jovens que passam pelo mesmo enfrentamento, a história gira unicamente na narrativa pessoal de Matheus. Deixando de lado a dinâmica proposta, o filme foca principalmente nos dilemas morais do protagonista do que ao processo de escravidão moderna, sendo demonstrada em alguns momentos do filme, mas sem se tornar o tema principal.


Um ponto interessante a ser comentado em relação ao roteiro escrito por Thayná Mantesso e Alexandre Moratto, que também dirigiu o longa, é a capacidade de não emburrecer seus personagens para criar conflitos na narrativa. Desde o momento em que os jovens percebem a situação que vivem, não lhes faltam tentativas de fugas ou planos coerentes para sair do local. O filme não abre espaço para o telespectador dizer que bastava os personagens fazerem algo, ou agir de tal modo, para escapar de sua prisão.


Desde o início o roteiro caminha para eliminar todas essas frustrações, criando uma cadeia de construção lógica para barrar os seus personagens de possíveis fugas. Tendo assim uma narrativa em que o público não fica a todo o instante em um estado de indignação, e sim de um público que anseia pelo: “E agora?”

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Rodrigo Santoro e Christian Malheiros como os personagens "Luca" e "Matheus"


A direção consegue criar uma boa dinâmica entre os atores e seu ambiente. Com movimentos de câmera orgânicos, utilizando de técnicas como câmera na mão e planos fechados, a imersão é rápida, criando uma fluidez narrativa clara de se assistir. A direção aparenta não se preocupar em trazer os planos mais belos, e sim criar ambientações cruas e realísticas, ligadas diretamente ao tema e trazendo mais textura à narrativa.


As atuações e dinâmicas entre os personagens Matheus e Luca são bem feitas, sendo o relacionamento principal do longa. Ele se constrói em uma cadeia de eventos guiada por Matheus, que passa a se tornar um aliado de seu carcereiro, criando uma relação que a cada passo de que é tomado, mais problemáticas e dilemas são criados para o protagonista enfrentar.

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Christian Malheiros constrói seu personagem de forma trabalhada e carregada de dilemas, mas mantém uma atuação parecida de seu personagem da série “Sintonia”, do mesmo streaming. Já Rodrigo Santoro cria uma personalidade única ao seu personagem, sendo irreconhecível e apenas confirmando (como sempre) seu talento.


Um ponto que, apesar de entender, não posso deixar de não comentar: A falta de personagens femininas no longa, falhando no teste de Bechdel*, mesmo possuindo uma roteirista feminina, que mesmo estando devidamente creditada no filme, inúmeros sites não a credenciam devidamente.


“7 Prisioneiros” é um filme importante e mais um marco do audiovisual brasileiro, vivo e pulsante mesmo em tempos difíceis em que estamos passando. É uma narrativa linear e bem construída, que fará o público refletir sobre o local em que vive e observar seus arredores além dos pontos turísticos.



*questionamento criado por Alison Bechdel, que tem como proposta analisar se a obra fílmica possui ao menos duas personagens femininas, que possuem diálogos e que conversam entre si sobre algo que não seja relacionado a um homem

 
 
 

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Matinê Baiana

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