"A Ilha do Medo": Você tem coragem de olhar pra Dentro?
- Helena Vilaboim

- Jan 5, 2022
- 3 min read
“A Ilha do Medo” (Shutter Island) é um filme de suspense e mistério de 2010 dirigido por Martin Scorcese. O longa conta com 2 horas e 20 minutos de duração e está disponível nas plataformas Netflix, HBO Max, Prime Video, Telecine e Paramount.

A narrativa segue Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio), um detetive que é chamado a um hospital psiquiátrico quando uma das pacientes, uma criminosa, foge da instituição. Junto com seu parceiro Chuck (Mark Rufallo), Teddy encontra resistência para a conclusão do caso ao ponto que é forçado a reviver memórias trágicas de seu passado e fazer as pazes com a verdade.
Com um conceito marcante e que se desenrola para apresentar muito mais do que inicialmente se pensava, “A Ilha do Medo” é um filme que mexe com a complexidade do cérebro humano e a força dos traumas psicológicos. O filme também lida com temas como saúde mental e luto de formas pesadas, mas que chamam a atenção da audiência de forma eficiente e natural.
O roteiro de Denis Lehane e Laeta Calogridis é hábil em despistar a atenção dos que assistem o filme, criando situações perfeitas para um plot twist que impressiona e melhor ainda, que faz sentido. Depois que a verdade é revelada, há aquela sensação de “Preciso ver esse filme de novo para checar todas as pistas”. O que com certeza é um sinal de que o filme se explica bem, e que todos os detalhes funcionam maravilhosamente.

O uso de simbolismo no filme é algo que também chama a atenção, e o roteiro mescla ícones já conhecidos pela população geral, com a presença de um farol como lugar proibido e onde segredos e conhecimento se confundem com um novo significado, como a perda de identidade em prol de alívio. (Quem assistiu sabe)
Uma coisa interessante é que o filme a primeira vista parece uma obra que sairia mais pela produção do diretor Christopher Nolan do que de Scorcese, pois apesar desse último saber bem mexer com os temas abordados no filme, “A Ilha do Medo” é bem mais introspectivo e pacífico. Uma coincidência a mais é que em 2010 saiu outro filme com uma dinâmica parecida, e dirigido pelo Nolan e estrelado pelo DiCaprio: “A Origem”.

Além disso, outra coisa que chama a atenção é que toda a atenção de desenvolvimento do roteiro está focado no personagem do Leonardo DiCaprio, com os outros personagens servindo apenas de artifícios para provar que ele está certo ou errado, ou desenvolver algumas características do personagem, como sua determinação ou jogo de cintura em algumas cenas.
Isso não quer dizer que os outros personagens são deixados de lado, mas que simplesmente sua função é outra. Mark Rufallo por exemplo, faz o papel de um leal parceiro para Teddy, dando apoio quando necessário, mas também servindo como um obstáculo para os objetivos do protagonista.
O resto do elenco cumpre seus papeis de forma brilhante, revelando ou escondendo informações que confundem o espectador, ou aprofundam a situação já complexa desde o início do filme. Os que mais chamam a atenção são Ben Kingsley, Michelle Williams e Patricia Clarkson.
A direção de Scorcese é linda no filme. ela trabalha brilhantemente junto com o roteiro para vender uma imagem de perigo, de realidade - ao mesmo tempo que parece algo surreal. Junto com isso está a paleta de cores pouco saturada para criar uma atmosfera pouco convidativa e misteriosa, que cria a estética do filme. São cenas lindamente compostas e trabalhadas, que não vão deixar o espectador desviar os olhos.

Em conclusão, "A Ilha do Medo" é um daqueles filmes que habilmente deixam a pergunta "o que é real?" no ar, com a promessa de que a resposta vai vir, mas também depende da escolha de cada um, como o final do longa propõe.



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