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"A Inglesa": A recuperação da Identidade e Propósito em um Mundo Brutal

As vezes, para entender o contexto de algo que está acontecendo no mundo atual é preciso voltar atrás para onde e quando tudo começou. A criação de um país e sua construção em cima de violência e sangue, e como isso o afeta ainda hoje. E costurar uma narrativa épica em cima disso é fácil quando se tem a história como referência.


"A Inglesa" (The English) é uma minissérie de Velho-Oeste original Amazon Prime com parceria com a BBC. Ela conta com 6 episódios de mais ou menos 50 minutos cada e no Brasil está disponível pela plataforma HBO Max desde novembro de 2022.

Emily Blunt como "Cornelia Locke"

A narrativa segue Cornelia Locke (Emily Blunt), uma aristocrata inglesa no ano de 1890, que chega nos Estados Unidos à procura de vingança pela morte de seu filho. Completamente despreparada para o que lhe aguarda, Cornelia cai numa armadilha, onde conhece Eli Whipp (Chaske Spencer), um nativo americano que está tão preso quanto ela, viajando para recuperar terras que lhe pertence por direito.


Descobrindo que têm um destino em comum, o norte, Cornelia e Eli partem numa jornada desde o Texas até o norte dos Estados unidos, onde supostamente encontrarão suas tão desejadas redenção e identidade. Durante a viagem eles encontram todo o tipo de personagem, que exercitam diferentes partes das suas personalidades, seja a escolha entre violência e gentileza, como e quando e pelo que lutar.


A produção de "A Inglesa" é de tirar o fôlego. A direção de Hugh Blick usa bastante de tropes do gênero de Velho-Oeste para contar a história, nos mostrando grandes campos abertos, cidades em sua primeira aparição: prédios de madeira e tendas, avisos macabros e imagens dos personagens em meia luz ou somente sua silhueta, lhes confiando um aspecto quase místico, e rendendo imagens belíssimas.


A estética da série fica completa com outros elementos evocativos que são extremamente detalhados, como as vestimentas de época, por Phoebe De Gaye, e a maestria da maquiagem empregada em alguns personagens que certamente vão capturar a atenção de toda a audiência durante a cena e provavelmente muito depois de o episódio ter acabado.


No departamento de roteiro, "A Inglesa" oferece uma visão 360 do país como ele era, apresentando personagens de todos os tipos, e essas interações com os protagonistas é maravilhosamente rica. Com Cornelia principalmente, pois vemos ela se adaptar às regras dos Estados Unidos, onde a violência e ameaças são ferramentas para conseguir chegar ao "sonho americano".


Embora essa visão ampla encha os olhos de primeira, a grande quantidade de personagens e suas interligações pode vir a confundir alguns espectadores, um aspecto que é ruim para a série que já conta com flashbacks e um plot twist que desconstrói o que tinha sido estabelecido na mente do espectador.


Completando o aspecto visual da minissérie, "A Inglesa" conta com o elenco principal maravilhoso. Emily Blunt dá tudo de si nessa performance, conduzindo a personagem que em menos de dois meses, na trama, vai de peixe fora d'água para uma mulher dedicada á uma missão, capaz de encarar o oeste selvagem sozinha. Cornelia ainda carrega uma vulnerabilidade gigantesca, e não se deixe dobrar pela crueldade que o país tenta fazer aflorar em algumas pessoas, ela conserva também uma bússola moral forte, e é capaz de se sacrificar para fazer o que acha certo.

A outra face dessa moeda é Eli Whipp, vivido pelo ator Chaske Spencer, um personagem já bastante surrado, tendo não só vivido sua vida toda sob a colonização americana, como tendo tipo experiência com o exército americano. Embora mais adaptado ao caos e violência no país, Eli também conserva uma moralidade forte, que por vezes é ignorada em prol da própria sobrevivência, o que é desafiado com a chegada de Cornelia em sua vida.


Longe de serem personagens do tipo "capitão américa", Eli e Cornelia são os heróis que a américa estava precisando numa história dessas: personagens que estavam dispostos a ir contra a lógica de "terra sem lei", mesmo que ao final das contas, seus objetivos não sejam alcançados.


"A Inglesa" é uma daquelas séries que tem uma premissa épica, mas com o desenrolamento da trama, vemos que ela também é uma tragédia bem construída. A audiência é levada a se importar com a jornada desses personagens só para descobrir que ela é toda em vão, e que essas pessoas já estavam condenadas muito antes de suas histórias começarem. É certamente uma minissérie que merece ser assistida numa maratona.








 
 
 

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Matinê Baiana

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