"Alexandria": Mais coisas nos unem do que nos dividem?
- Helena Vilaboim

- Feb 25, 2022
- 3 min read
Updated: May 26, 2024
"Alexandria" (Agora) é um filme histórico produzido em 2009. Ele foi dirigido por Alejandro Amenábar e escrito por Mateo Gil em conjunto com o diretor. O longa está disponível nas plataformas Mubi, Claro Vídeo e Now TV, e conta com 2 horas e minutos de duração.

A narrativa segue Hipátia de Alexandria (Rachel Weisz), uma filósofa no período da ascensão do Cristianismo no Egito. Quando as tensões entre Pagãos, cristãos e judeus começa a ficar mais séria, Alexandria fica dividida e Hipátia tenta completar seus estudos antes que o conhecimento que ela tenta obter seja considerado sacrilégio.
"Alexandria" é um filme que assim como a cidade legendária que traz á vida, é dividido entre a história factual e os temas e ideias que os roteiristas misturam á trama. A audiência não só acompanha a trajetória acadêmica de Hipátia, mas por meio de seu pupilo Orestes (Oscar Isaac) e o escravo Davus (Max Minguella), ficamos também a par da política da época e das questões sociais que trilharam a morte da filósofa e a perda de seu trabalho.

Também interessante é que Alejandro Amenábar se retém de mostrar um só lado definitivo que está correto, atribuindo mais ou menos culpa aos grupos religiosos ao decorrer da narrativa e de acordo com suas próprias ações. Mas é claro que o foco da protagonista é o embate entre ciência e religião, e é isso que fica para os espectadores ao final, numa tomada otimista.

Na pessimista, "Alexandria" foi muito criticado desde o seu lançamento por sua representação dos cristãos fundamentalistas na narrativa. E apesar de serem críticas á decisões estéticas, algumas fazem sentido, como o fato das roupas escuras
Apesar dessas represálias fazerem sentido para o grupo que por vezes se ofende, a ideia principal no filme, até onde essa crítica pode perceber, é a crítica ao pensamento restrito a interpretações de outras pessoas, e a tomada deles como verdade absoluta. Há até uma parte no filme em que isso fica bastante claro durante uma conversa entre Hipátia e seus antigos discípulos.

Outra crítica frequente ao filme é o uso de Orestes e Davus como acessórios românticos. Sem dúvidas suas funções mais importantes estão na política, mas somente usando essas, a história ficaria talvez vazia, ou curta. Isso por que não sabemos muito sobre Hipátia e seus estudos depois de sua morte e o apagamento de sua memória.
O elenco está maravilhoso. Rachel Weisz em especial, entrega uma performance de quebrar o coração, e bastante expressiva também. Sua Hipátia é firme em suas convicções, e é uma personagem bastante influente na política de Alexandria, muito embora mais como conselheira do que uma parte diretamente ativa.

Quem chama bastante atenção também é Orestes. Oscar Isaac faz um papel maravilhoso mostrando a dualidade do personagem durante dois períodos da sua vida. É por ele também que ficamos a par das questões políticas que entrelaçam com as religiosas, e também do que isso lhe custa no final.

No papel de Davus, Max Minghella dá um show. Seu personagem é sem dúvidas o que mais muda durante a narrativa, sendo seduzido pela possibilidade de mudança de vida, ascensão social e também a tomada de poder por meio de uma espada.
O cenário também é algo que rouba a atenção do espectador, como vimos Alexandria completamente reconstruída, e os detalhes de cada set, de cada extra é estonteante. O longa realmente foi uma mega produção, sendo até apelidado por alguns comentaristas de "A paixão de Cristo para ateus".
Em conclusão, "Alexandria" é um filme que nos convida a testemunhar um dos acontecimentos mais marcantes da história humana sob uma visão moderna e que tenta ser neutra. É com certeza um dos filmes que se não ofender quem assiste, vai convidá-los a questionar tudo e todos a seu redor.



Comments