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"Armageddon Time": Quebrando a tradição

Desde alguns anos atrás, mais e mais projetos cinematográficos e de televisão tem explorado a nostalgia de grande parte da audiência mundial, se apoiando em músicas famosas, cenários que são reconhecidos facilmente e atividades que retomam uma era passada. Esse esforço, principalmente concentrado na década de 80, praticamente cria uma realidade paralela, principalmente para aqueles que não experimentaram a época por conta própria.

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O que acontece, então, quando essa bolha de nostalgia é destruída? Vemos uma sociedade machista, elitista e racista. E como uma criança navegaria tudo isso, sendo parte de uma família imigrante nos Estados Unidos? É a premissa básica de "Armageddon Time", um filme altamente pessoal para o diretor James Grey, que também assina o roteiro.


O longa estreia nos cinemas brasileiros no dia 10 de Novembro e conta com 1 hora e 54 minutos de duração. A narrativa segue Paul Graff (Banks Repeta), um garoto de uns 12 anos de idade vivendo em Nova York com sua família. Quando Paul conhece Johnny (Jaylin Webb), um garoto negro em sua sala de aula, a amizade dos dois cria problemas que são certamente formadores de caráter.


Com uma narrativa que foge do usual "problema - solução - resolução", Armageddon Time é obviamente um filme baseado nas próprias experiências do diretor e roteirista, e como tal, todo o filme tem essa qualidade de memória, se apegando a momentos que mudam o protagonista muito mais que dando um final redondo à trama.

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Um filme lento, Armageddon Time provavelmente vai precisar de pelo menos duas tentativas para que a audiência o compreenda em sua totalidade, principalmente pela provável resistência às falhas óbvias, como o uso de um personagem negro somente para o benefício do personagem branco, inaceitável nos dias de hoje, mas pela própria construção de memória, é possível que esse escorregão seja relevado. O argumento principal é: como é possível consertar a memória de algo terrível?


O que chama atenção é que embora a premissa seja simples, e o filme seja primariamente bem contido em relação à cenários, Grey parece ter se empolgado na grandiosidade de sua narrativa, primeiramente titulando o filme "Armageddon Time" (Tempo do Armagedon), e depois escalando atores da melhor qualidade para papeis pontuais, como Anthony Hopkins e Jessica Chestain, que embora entreguem uma performance maravilhosa, como esperado, são usados de forma rápida, principalmente Chestain.

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Completando o elenco, temos Anne Hathaway e Jeremy Strong no papel dos pais de Paul, duas figuras as vezes sutilmente opressivas, outras bastante abertamente; mas que fica claro que querem o melhor para o filho, à sua maneira falha.


Tendo saído de projetos de terror, como "O Telefone Preto" e "O Diabo de Cada Dia", Banks Repeta chama atenção, conseguindo contracenar com grandes nomes do cinema como Hopkins e Hathaway da mesma forma que contracena com atores de sua idade. Seu personagem passa por uma jornada interessante e bastante formadora partindo de entendendo seu privilégio como uma pessoa branca, e passando por experiências que mostram a verdade do "sonho americano".


Jaylin Webb apresenta potencial, mas assim como seu personagem, ele fica relegado à poucas cenas, e não contracena com muito do elenco coadjuvante. Sua performance é emotiva, mas está ainda sendo polida. Com seu nome nesse projeto, é bem possível que ele consiga mais visibilidade.


Concluindo, Armageddon Time é um filme biográfico, um estudo realista e brutal dos subúrbios norte-americanos da década de 80, vistas primariamente pelos olhos de uma criança que está lentamente aprendendo como as coisas funcionam e aprendendo sobre privilégio e injustiça.

 
 
 

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Matinê Baiana

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