"As Espiãs de Churchill": A narrativa escondida
- Helena Vilaboim

- Nov 10, 2021
- 3 min read
“As Espiãs de Churchill” (A Call to Spy) é um longa de 2019 disponível na plataforma Netflix, dirigido por Lydia Dean Pilcher. O filme conta com 2 horas e 4 minutos de duração. É uma produção sobre a resistências Inglesa e Francesa durante a Segunda Guerra Mundial.

A narrativa, baseada em fatos e personalidades reais, segue três mulheres: Vera Atkins (Stana Katic), Virginia Hall (Sarah Megan Thomas) e Noor Inayat Khan (Radhika Apte), que empregadas pelo governo Britânico, têm a missão de combater a expansão Nazista por métodos de sabotagem e espionagem.
Diferentemente dos filmes hollywoodianos que tendem a glamourizar a espionagem, “As Espiãs de Churchill” foca na veracidade dos fatos e técnicas que essas pessoas dispunham na época. O filme não tenta passar uma ideia “filtrada” do trabalho de espião e oferece a versão crua e arriscada das missões. O que em nada prejudica a imagem dessas mulheres e suas reputações, pelo contrário: elas passam a ser ainda mais admiráveis.

No ponto de vista do governo Britânico, temos Vera Atkins, uma mulher judia á frente da missão de inclusão de agentes femininas. Com tudo a perder: identidade e liberdade, Vera comanda a operação sem o título oficial do governo, apostando tudo o que havia conquistado numa chance de melhorar a situação dos aliados.
O foco da narrativa de “As Espiãs de Churchill” está em Virginia Hall, embora todas as três protagonistas tenham seus núcleos narrativos e seus arcos. Virginia é uma mulher americana, que sonhava em se tornar diplomata. Por causa de um acidente que lhe custou uma das pernas, ela nunca conseguiu alcançar o sonho. Mas a despeito disso, Virginia possui um espírito feroz e corajoso, e ela toma a decisão de ter uma participação ativa na guerra. É por seus olhos que vemos as dificuldades enfrentadas por esses agentes, e o grave risco que eles confrontaram.

Em contrapartida, Noor Inayat Khan é sem dúvidas o elo mais corajoso desse trio. De descendência mulçumana assim como britânica, Noor era pacifista, e se recusou a usar armas durante sua estada no território ocupado. Ela no entanto trabalhou passando informações valiosas para o centro de organização das missões, pelo meio de código Morse.
O filme, escrito por Sarah Megan Thomas - Que também faz o papel de Virginia Hall - , é eficiente em nos trazer para perto das dificuldades enfrentadas por essas três personagens, e logo deixa transparecer que a missão era um experimento, aumentando o risco da aventura. Equilibrar as três narrativas em paralelo foi uma decisão interessante, que promove uma igualdade no quesito de importância naquelas situações.

É importante também falar da total inexperiência das agentes treinadas ás pressas para serem despachadas nas áreas ocupadas. Muitas das quais não tinham passado por nada parecido em suas vidas “normais”. A coragem e autruísmo dessas mulheres é uma inspiração.
Lydia Dean Pilcher, com toques de filme independente em seus planos, ainda tropeça quanto á direção, nos oferecendo algo bem comum ao gênero de filmes de guerra. É notável que ela ainda está no começo da carreira, o que não significa que seu trabalho é ruim, mas é apenas imemorável.
Desse modo, a pressão de trazer essas personalidades á vida novamente fica completamente á cargo do elenco, que entrega um bom trabalho. Uma das coisas que me chamou atenção, porém, foi o quanto a performance de Sarah Megan Thomas é ainda rústica e um tanto exagerada. Sua presença em cena destoa dos colegas, mas depois de um tempo, é possível relevar a estranheza.
“As Espiãs de Churchill” não é um filme perfeito. Sua importância está no contexto histórico que ele entrega, apresentando a participação de mulheres na linha de frente contra o combate ao Nazismo, embora não em campos de batalha. É uma história certamente pouco conhecida e que merece a nossa atenção. Além disso, é uma boa recomendação pelos temas, que infelizmente ainda são bastante recentes no mundo de hoje, 76 anos depois do término da Guerra.



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