"Atômica": Os Anos 80 Frios
- Helena Vilaboim

- Nov 26, 2021
- 3 min read
“Atômica” (Atomic Blonde) é um filme de espião de 2017 dirigido por David Leitch. Ele tem 1 hora e 55 minutos de duração e está disponível nas plataformas Claro Vídeo, iTunes e Google Play para alugar. “Atômica” foi baseado na História em Quadrinhos “The Coldest City”, escrita por Anthony Johnston.

A narrativa, que se passa no período da Guerra Fria (1947-1991) segue Lorraine Broughton (Charlize Theron), uma agente da Agência de Inteligência Britânica (MI6) durante o final dos anos 80. Quando um colega infiltrado em Berlin morre e perde uma lista importantíssima, Lorraine é mandada para a cidade tentar recuperar essas informações, entrando num ambiente extremamente instável e em que não se pode confiar em ninguém.
Alinha temporal do longa é dividida entre a estada de Lorraine em Berlin e a entrevista de acerto de contas depois da bagunça causada por essa "caça ao tesouro".
“Atômica” é um daqueles filmes que se você piscar e não prestar atenção por um momento, com certeza vai perder uma parte importante da narrativa. Isso se dá pela complexidade do plot, típico de filmes de espiões: cheios de reviravoltas e personagens que têm muito a esconder; e também pela quantidade imensa desses personagens, que são parte da narrativa em uma capacidade essencial.
O roteiro de Kurt Johnstead deixa bem claro que todos os personagens ali têm uma função que faz a engrenagem da narrativa girar por conta própria, independente de suas relações com outros personagens.
Desse jeito, o filme emprega uma técnica Hitchcockiana de suspense ao seguir vários personagens enquanto a trama está sendo construída, mostrando á audiência o que está acontecendo nos bastidores, sem que os personagens tenham esse benefício também. Se por um lado isso aumenta a tensão de quem assiste, por outro também desenvolve a competência dos personagens em jogar aquele jogo de espião.

Como era de se esperar, a humanidade da Lorraine não é muito explorada no filme. Salvo por algumas cenas que ela compartilha com Delphine Lasalle (Sofia Boutella), ela é primariamente uma mulher no meio de uma missão, e se comporta como tal. Se por um lado essa faceta é escondida, por outro a audiência é levada a simpatizar com ela pela sua fragilidade.
O que isso quer dizer que durante as muitas cenas de luta, muito bem coreografadas, ela se machuca, fica desorientada, cansada e fraca, como uma pessoa real ficaria nas situações em que ela se encontra. Isso também se estende aos oponentes. Lorraine então tem que apelar para táticas pouco formais, usando os ambientes e objetos comuns para sua vantagem.

É interessantíssimo ver a interação dessas duas personagens, e notar como o nível de conforto que Lorraine tem com Delphine despenca completamente quando ela está com Percival (James McAvoy), um colega de trabalho em quem ela não confia. A ambientação nos anos 80 deu um toque especial ao longa, atingindo o ponto certinho entre o familiar e o desconhecido. A trilha sonora vai remeter muita gente há um tempo já vivido, mas num contexto que não é muito comentado, o que ainda conserva alguma surpresa e maravilhamento.
Leitch ainda acertou no ponto certo de estilização da direção, com muitos takes menos realistas, mas que remetem ao material de origem da narrativa: a HQ “The Coldest City”. Além disso, ele trabalha com uma fotografia mais fria, com tons de azul que mostram ao telespectador que aquele é um ambiente hostil sem precisar explicar muita coisa.

Além do roteiro ser redondinho, o que mais impressiona o espectador são as coreografias de luta. Combinando coreografia com técnicas boas de edição e posicionamento de câmera, o coreógrafo de lutas Sam Hargrave proporcionou muita surpresa á audiência. Junto com o diretor e a própria Charlize Theron, que insistiu em fazer a maioria das cenas sem usar dublê, eles construíram a aparência de uma cena de take longo, ou seja: sem cortes - Mas que não aconteceu - , que durou 7 minutos de pura ação. Vale a pena conferir.
“Atômica” é um filme de espionagem muito bem feito, que tem um roteiro organizado e bem ritmado, que engana o espectador sem confundi-lo (a), e com um elenco maravilhoso para acompanhar, é fácil se perder na Berlin da Guerra fria, enquanto ficamos na ponta do acento esperando o que acontecerá em seguida.



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