"Babilônia": Não é para os fracos de estomago, nem de coração
- Helena Vilaboim

- Jan 16, 2023
- 2 min read
Quando pensamos em cinema, e especialmente em Hollywood, lembramos do glamour da era de ouro, da riqueza e criatividade narrativa que se concentrava em um só lugar. Talvez alguns de nós pensemos também em uma indústria implacável, cruel e discriminatória. Embora as duas imagens soam reais, há também o caos e a intensidade de ter não só sobrevivido à Primeira Guerra Mundial, mas também de tê-la ganho, que lançou o mundo todo em um frenesi sem fim.

Babilônia" (Babylon) explora esse estado de frenesi e caos, misturado com adoração que Hollywood inspirava nos anos 20 e 3o, na transição entre o cinema mudo para o cinema falado; seguindo Manuel (Diego Calva) e Nellie (Margot Robbie), enquanto tentam alcançar o estrelato, e Jack Conrad (Brad Pitt), enquanto tenta se manter no alto da pirâmide.
É justo e necessário avisar que Babilônia não vai agradar à todos. O filme pega pesado em alguns aspectos, como nojeira, exploração da sexualidade e uso de drogas, mas em termos práticos, o filme pode ser, sem sombra de dúvidas, a obra prima de Damien Chazelle.
O diretor, que também assina o roteiro, vai com tudo com câmeras continuas logo no início do filme, nos mostrando sets abertos e extravagantes com mais de 500 figurantes e animais reais; criando um clima fervoroso de insanidade que deve chegar perto de uma dose de alucinógenos que bateu muito certo.

Não é justo tentar adequar a narrativa de Babilônia em gêneros específicos, pois com o elenco maravilhoso que ainda conta com Jean Smart, Jovan Adepo, Lukas Haas e Tobey Maguire, entre outros, o filme vai facilmente sendo costurado entre drama, comédia, thriller e non-sense sem chamar muita atenção para isso, mostrando uma narrativa talvez bastante realista.
Um artifício que Chazelle usa muito bem é a dicotomia do caos versus o silêncio. Enquanto temos cenas de completa desordem, violência e dança e música, que alucinam os sentidos com hyper-estimulação, temos logo em seguida cenas de muito silêncio e contemplação, diálogos potentes e reflexivos.
Margot Robbie é a estrela do filme. Sua personagem, Nellie, parece uma versão melhor trabalhada e menos psicótica do que sua Harley Quinn, mas não menos caótica ou ambiciosa. Nellie é a típica mulher selvagem, que faz o que quer e sofre por isso quando Hollywood começa a adotar um código moral mais restritivo.

Por trás das câmeras, Manuel escala a pirâmide desde "faz tudo" para um manda-chuvas do cinema à produtor, com dedicação que é digna de inveja. Diego Calva é brilhante. Seus olhos são extremamente expressivos, e convém o diálogo interno do personagem para a audiência com facilidade. Seu nome certamente aparecerá em premiações futuras.
Mas Hollywood corrompe. "Babilônia" pode muito bem ser uma carta de amor ao cinema na era de ouro, mas é também um aviso: ninguém que não está disposto a fazer o que é preciso para avançar na indústria é bem vindo. Talvez isso se estenda também aos espectadores?
"Babilônia" vai estrear dia 19 de Janeiro de 2023 nos cinemas Brasileiros e conta com 3 horas e 9 minutos de duração!



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