"Belfast": É Um filme Isca de Oscars?
- Helena Vilaboim

- Feb 22, 2022
- 3 min read
“Belfast” é um filme autobiográfico, escrito e dirigido por Kenneth Branagh, que estreia nos cinemas brasileiros em 10 de Março de 2022. O longa está concorrendo em 7 categorias do Oscar 2022, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção. “Belfast” conta com 1 hora e 40 minutos de duração.

A narrativa segue Buddy (Jude Hill), um garotinho irlandês de mais ou menos 8 anos, vivendo em Belfast com sua família no final dos anos 60. Quando os conflitos na Irlanda do Norte (chamados em Inglês de “The Troubles”) ficam muito tensos, a família entretém a ideia de sair de Belfast e deixar para trás tudo que eles conheciam e começar do zero.
Filmado em preto e branco digital, “Belfast” trabalha muito bem com os conflitos internos e externos, implementando uma roda de causa e consequência que faz sentido, mas que ao mesmo tempo parece algo muito encenado e coreografado em alguns momentos. Isso é capaz de tirar o espectador da veracidade do filme, mesmo que essa reconstrução de memórias "hyper consciente" proporcione alguns momentos engraçados e sinceros.

Desde de “Jojo Rabbit” (2019), o cinema de hollywood passou a desenvolver as narrativas ao redor de conflitos sociais pelos olhos de crianças, dando mais peso e significado aos mesmos, e apresentando uma perspectiva bastante real, mas que deixa de ser explorada provavelmente por ser julgada sem peso ou até mesmo importância.
Isso em “Belfast” é ainda mais eficiente e subverte o que já era estabelecido, com o ator mirim Jude Hill entregando uma performance muito simpática e honesta, que desde a primeira aparição de Buddy no filme, nos deixa apegados á sua história. E muito mais, por saber que é uma narrativa autobiográfica, a audiência fica a par do mundo interno do menino, e como o externo o influencia.

O elenco coadjuvante é um grupo de peso, contando com Judi Dench e Ciáran Hinds, os dois estão inclusive concorrendo aos oscars de melhor atriz coadjuvante e melhor ator coadjuvante; além de Caitriona Balfe e Jamie Dornan, nos papeis dos pais dos pais de Buddy. Eles formam uma família unida, mas que passa por dificuldades, e que não conversam muito sobre os conflitos externos que enfrentam.

As performances aqui estão fantásticas, com a atenção voltada para Judi Dench e Ciáran Hinds, e principalmente de Caitriona Balfe, que faz o papel de uma mãe extremamente cuidadosa, mas que carrega praticamente sozinha o peso da criação dos filhos e do financeiro da família.
Um dos desafios de narrar uma autobiografia para um público que tem perspectivas e talvez até versões diferentes daqueles fatos é balancear a realidade com o controle de narrativa para proporcionar uma boa ida ao cinema aos espectadores. Por isso, é preciso manter em mente que Kenneth Branagh tentou fazer o melhor.
Em termos narrativos, o filme deixou de desenvolver alguns pontos, como talvez uma explicação mais detalhada dos conflitos na Irlanda. Por vezes, há a falta de diálogo entre a família de forma direta, mas a perspectiva da época entram em jogo aqui, além da noção de que nenhum pai ou mãe teria coragem de colocar o filho pequeno a par de um conflito tão absurdo e sanguinário.
O que temos então, é Buddy entreouvindo as muitas conversas dos pais e dos avós. enquanto tenta encaixar aquele contexto em sua própria vida, seja conscientemente ou não. É interessante ver como isso o afeta e por consequência, as pessoas ao seu redor.

Concluindo, "Belfast" é um bom filme, é tão honesto o quanto pode ser, mantendo a audiência entretida enquanto ficamos a par do início da vida desse cineasta, e também um pouco da história de seu país de origem.



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