"Café com Canela": Um Queridinho do Cinema Baiano
- Helena Vilaboim

- Dec 15, 2021
- 3 min read
“Café com Canela” é um drama Baiano de 2017 dirigido por Ary Rosa e Glenda Nicácio. O filme tem 1 hora e 40 minutos de duração e está disponível na plataforma Prime Video.

A narrativa não linear segue três protagonistas distintos que formam uma espécie de história cruzada, tendo os três passado por histórias de perda parecidas, em momentos próximos. Os protagonistas são: Violeta (Aline Brune), Margarida (Valdineia Soriano) e Ivan (Babu Santana), três moradores de um bairro simples de uma cidade do recôncavo baiano.
Começamos a história de trás pra a frente, com os personagens juntos numa comemoração, e voltamos para saber dos eventos que os levaram até aquele ponto. O projeto é ambicioso, tentando conduzir não só uma narrativa não linear e também três pontos de vista diferentes, mas que interferem entre si. Isso complica um pouco o engajamento da audiência com o filme, em minha opinião.
Longe de ser uma história simples, “Café com Canela” é um filme extremamente necessário, principalmente em grandes momentos de perda de familiares e conhecidos como o que estamos passando atualmente. A mensagem do filme é apresentado nele mesmo, numa linha de diálogo: “O povo morre, e os vivos continuam vivendo”.

“Café com Canela” é um estudo sobre o luto, embora pareça querer apresentar uma moral positiva e otimista, e o filme se prende bastante num luto que estagna, que sufoca. Esse lado é mostrado principalmente por cenas solo de Margarida em sua casa.
No restante do filme, Ary Rosa e Glenda Nicácio, também responsáveis pelo roteiro, focam no dia a dia dos protagonistas de pessoas trabalhadoras e cuidadosas, formando uma preparação para as tragédias que vão se seguir, mas sem se preocupar muito em focar na relação entre os que morrem e os que ficam, comprometendo o engajamento emocional da perda dessas pessoas.
Na direção, a dupla optou por alongar cenas que normalmente seriam mais rápidas e encher o filme de metáforas visuais que infelizmente são usadas demais para causar o efeito certamente desejado. Outra falha na minha opinião é o ritmo do próprio roteiro, com um senso de causa e efeito entre as narrativas meio troncho, as vezes criando uma sensação de repetição de um acontecimento.

Os diálogos do filme vão de incrivelmente fiéis e realistas em cenas relaxadas entre os amigos, á monólogos belamente arquitetados que surgem completamente fora de contexto, parecendo que os personagens preparam o discurso antes de se encontrar com os amigos na mesa de bar. Isso quebra a veracidade do filme antes tão simplesmente construída e alcançada.
Um detalhe técnico que me chamou bastante atenção e acabou até me incomodando foi a iluminação das cenas. Foram usados vários focos de luz branca, que tornaram as cenas que deveriam ser intimistas quase num ambiente clínico, meio estranho.

Por parte das performances, as vezes há uma predominância de técnicas de teatro, como as personagens, no meio de uma briga, deixar o outro falar para depois retrucar. Mas em sua maioria, o elenco faz um ótimo trabalho, com uma atenção especial para Aline Brune e Valdineia Soriano, que carregam o longa nas costas.
Apesar das falhas apontadas aqui, “Café com Canela” é um bom filme e certamente merece estar na lista de todos que não só curtem filmes independentes como desejam explorar mais do nosso cinema. É uma chance de ver o que está sendo produzido na Bahia, e como esses projetos estão sendo conduzidos.
Assim como filmes como “Cidadão Kane”, esse longa se destaca para mim por seu contexto e importância por trás das câmeras, pois ele foi um dos responsáveis por colocar o cinema Baiano em evidência, chegando até ao streaming internacional, possibilitando a cativação de mais olhares.
Essa crítica foi difícil de ser escrita por causa da pressão ao redor do filme. Muita gente vai discordar desse texto, e tive conversas com amigos que também assistiram e gostaram muito, e discordam de minha opinião. Peço aos leitores que assistiram a “Café com Canela” que deixem aqui seus comentários sobre o filme, para que possamos conversar sobre ele de maneira justa.



Comments