"Caindo na Real": A Crise de Quarto de Vida e os Anos 90
- Helena Vilaboim

- May 19, 2022
- 2 min read
Os anos 90 foram o início de muita coisa. É de onde começou a interação das primeiras gerações de jovens com a tecnologia mais próxima do que conhecemos hoje, e suas consequências. Também foi onde as opções de carreiras começaram a expandir de forma exponencial e a geração entrando no mercado de trabalho teve que traçar um plano em meio ao caos.

"Caindo na Real" (Reality Bites) é um filme de 1994, e um dos primeiros trabalhos de Ben Stiller como diretor, que trata dessas temáticas de forma descontraída e nostálgica, mas que se perde em si mesmo tentando entregar dois produtos diferentes ao mesmo tempo. O longa está disponível nas plataformas Oi Play, Claro Video e Apple TV.
A narrativa segue um quarteto de amigos recém saídos da faculdade: Leleina (Winona Ryder), Troy (Ethan Hawke), Sammy (Steve Zahn) e Vicky (Jeneane Garofalo) tentando iniciar sua carreira profissional e balancear suas vidas pessoais. Em meio ao caos do mercado de trabalho aflorado e das relações entre o grupo, os protagonistas tem que descobrir como "adultar", amadurecendo sua visão de mundo e relações pessoais.
Imerso numa atmosfera carismática e relaxada, além de levemente anárquica, o grupo de amigos tem que lidar com muita coisa. O longa os mostra no momento da vida de uma das primeiras transições sérias na vida das pessoas, de adolescentes para adultos contribuintes (ou não) da sociedade. E é quando "estar perdido" pode facilmente virar a famosa "crise de um quarto de vida".

É esse o gancho inicial do filme. Pela lente da filmadora de Leleina, vemos ela entrevistar os amigos num documentário amador extremamente íntimo. Os personagens falam de forma honesta e sincera sobre seus problemas e desafios, pintando uma imagem perfeita da confusão de transição não só de eras, mas também de maturidade e expectativas.
Mas então, como se não estivesse seguro de que esse tipo de conteúdo seria forte o suficiente para sustentar a narrativa, Stiller mistura um triângulo amoroso no meio do filme, que embora seja o ponta pé inicial do arco de Troy, fica meio fora do lugar e é uma pena que tirou atenção da primeira premissa.
Porém, filmes, assim como qualquer outra obra de arte, têm que ser considerados pela época em que ele é produzido e pela época em que a narrativa é contada a partir dessa visão moderna. Ainda que "Caindo na Real" toque em temas extremamente importantes e ofereça á visão única de jovens nos anos 90 entrando num período de turbulência interna e externa, a falta de comprometimento com esses temas deixa o filme muito parecido com muitos outros do mesmo naipe.

O longa só se redime pelas performances. A escolha do elenco foi maravilhosamente bem feita, e o grupo de personagens é charmoso, envolvente e carismático em conjunto. É o tipo de grupo de jovens que você gostaria de ter como amigos ocasionais. Todos aqui têm uma chance de brilhar por conta própria, e é uma experiência boa ver esse grupo de atores hoje mundialmente conhecidos começarem suas carreiras num projeto como esse.
Concluindo, "Caindo na Real" é um filme que entrega uma premissa interessante, ótimas performances e uma nostalgia que muita gente acha confortável. É um daqueles filmes que é bom assistir com um grupo de amigos sem nenhuma pretensão numa sexta feira.



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