"Caminhos da Memória": Um projeto ambicioso para Lisa Joy
- Helena Vilaboim

- Oct 12, 2021
- 3 min read

“Caminhos da Memória” (Reminiscence), é um filme dirigido e escrito por Lisa Joy, uma das escritoras responsáveis pela série original HBO “Westworld”. O longa é a estreia da roteirista como diretora e escritora de longas, e está disponível na HBO Max. A narrativa segue 1 hora e 56 minutos, e se encaixa nos gêneros de mistério, distopia e filme noir.
Seguimos Nick (Hugh Jackman), um ex-militar que trabalha resgatando memórias esquecidas de pessoas que pagam por isso, usando uma câmara de água desenvolvida para interrogatórios. Quando Mae (Rebecca Ferguson), a mulher por quem ele estava apaixonado, some misteriosamente, Nick decide procurá-la por conta própria, descobrindo uma conspiração na qual ela estava envolvida pelo caminho.

A premissa do filme é interessante e o elenco central, que conta com o par romântico e ainda com Thandiwe Newton, como a parceira hard core de Nick, não é nada mal. Mesmo assim, “Caminhos da Memória” não é um filme que seja inesquecível, talvez esteja muito longe disso. Ele parece demais com outros filmes, como “A Origem”, de Christopher Nolan, para provocar uma dissociação entre muitos outros parecidos, mas melhores.
O roteiro de “Caminhos da Memória” é bastante baseado nos filmes Noir da década de 30 e 40, chegando perigosamente perto de soar cafona e cheio de frases de efeito já usadas por anos. A narrativa também usa arquétipos já passados como a "Femme Fatale", o "Detetive obcecado", a "Cidade Corrompida". O filme funciona bem, graças ao sotaque norte-americano de Hugh Jackman, que está presente em quase todas as mudanças de cena, situando o espectador como o narrador.
A direção de Joy é eficaz dentro do projeto que ela se pôs a criar, mas está ainda apoiada demais na visão de outros diretores e outros longas que seguem na mesma linha para nos oferecer a visão única dela. Há muitos elementos aqui que foram emprestados de “A Origem”, saído 10 anos antes. E infelizmente, é uma aproximação notória.

O que salva o projeto é o elenco. Com pouco material diferenciado com o que trabalhar, parece que eles dão o seu melhor para dar vida aos personagens que há muito tempo já populam o cinema, seja usando faces, motivos e gêneros cinematográficos diferentes. A verdade é que nenhum deles é muito diferente do que já vimos antes.
O cenário e o momento de tempo em que se passa poderia oferecer muito mais caso tivesse sido melhor explorado. A estética de Miami presente no longa casam bem com o gênero noir, como se fosse uma melhoria natural e perfeita. Infelizmente, o filme não se dá tempo de explorar o local ao redor dos personagens, se definindo em espaços fechados, uma escolha menos arriscada e divertida.

Essa falta de exploração também se aplica ao relacionamento do casal principal. As cenas dão pouca importância á sensação de intimidade emocional entre eles, preferindo como analogia a visualização da paixão entre o casal. Felizmente, os atores foram bem escolhidos e a química entre os dois funciona muito bem.
Em conclusão, “Caminhos da Memória” poderia ser um filme maravilhoso, extremamente bem feito, e diante do que a diretora e escritora tinha em mãos naquele momento de sua carreira é o que tinha que ser. Dito isso, talvez fosse um projeto que teria se beneficiado se Lisa Joy tivesse esperado sua experiência amadurecer melhor antes de desenvolver um projeto tão ambicioso.



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