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Crítica : Cinderella (2021)

Após anos e mais anos recontando a mesma história, e de vez em quando as atualizando, mas sempre seguindo a mesma premissa clássica proposta pela animação da Disney Cinderela (1950), chegou no dia 03/09/2021, através da plataforma de streaming Amazon Prime, uma moderna e ao mesmo tempo clássica história de Cinderella (desta vez, com dois Ls).

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O filme até consegue trazer um novo frescor para a história já tão batida no universo hollywoodiano, mas que se perde ao não saber exatamente como se identificar, se tornando uma história sem potência e consistência.


Atuando pela primeira vez, a cantora Camila Cabello assume uma nova personalidade a Cinderella. Aqui, a jovem sonha em ter sua própria linha de roupas e viver sua vida de forma independente, sem interesses em bailes ou príncipes. Esta narrativa interessante de ser apresentada para jovens crianças, e de extrema importância em um meio em que sempre as mulheres são vistas carregadas por estereótipos.

Contudo, sua execução é feita de maneira tão rasa e carregada de frases prontas, que torna a narrativa ideal para públicos infantis, e não para mais velhos, mesmo a classificação indicativa sendo para maiores de 10 anos.


A premissa até aqui é interessante, dando um olhar diferenciado e uma personalidade a mais na personagem que nunca até então, havia tido um objetivo claro. Diante a uma primeira atuação, e ainda por cima sendo protagonista de primeira mão, o desafio de Camila era grande, algo que infelizmente ela não consegue entregar.


A Cinderella representada por ela é mecânica, uma mistura confusa entre uma protagonista que vive aos tropeços, horas fala bem, outros momentos não consegue pronunciar uma palavra direito; Ou então em certos momentos apresenta uma bravura ou segurança enorme, para em outros se calar. A cantora apenas consegue se soltar nos momentos musicais, mas na hora de atuar, aparenta ser um ser robótico seguindo comandos sem nenhuma fluidez.

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O filme é a todo o instante contraditório. Hora a população da cidade é progressista, com feministas e pensamentos modernos, hora é antiquada e machista. Isso vale também aos seus personagens, eles nunca estão fiéis ao que se propõem trazer de primeira mão, e com isso não conseguem criar compatibilidade para o público se apegar a eles.


As atuações beiram ao mediano, destacando-se apenas a Billy Porter como o fada madrinho, que, mesmo possuindo poucos minutos de tela, consegue prender os olhares da audiência; E Idina Menzel como a madrasta, tendo também a personalidade remodelada e sendo menos má, algo que deve ter atraído a renomada atriz para atuar neste filme.

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O príncipe Robert interpretado por Nicholas Galitzine não é tão encantado, e acaba tornando o personagem linear, que aparenta buscar a todo o instante por sua personalidade que não tem. E não vou nem falar de James Cordan como um dos ratos ajudantes da Cinderella. Ao que parece existe algum contrato secreto em Hollywood em que exige em ele estar em todos os musicais, mesmo com sua monótona atuação.


Por mais que o filme se distancie da trama clássica, logo de cara já se torna óbvio em como a história irá finalizar, não trazendo nenhuma gratificação ou surpresa em acompanhar a narrativa até o final. A comédia é fora de tom, podendo gerar risadas apenas para um público infanto-juvenil, que se diverte com trapalhadas e caricaturas comédicas.


A direção aparenta estar perdida. A iluminação natural e contra luz não surtem o efeito adequado, fazendo sombras desnecessárias e imagens opacas, sem vida. Planos desconexos com a trama fazem a narrativa não fluir, e parece que em alguns momentos, a direção escolhia o plano não por representar algo na história, e sim por apenas querer seguir aquele movimento. Isso é algo até difícil de se compreender visto outros trabalhos da diretora Kay Cannon, como por exemplo a trilogia de filmes “A Escolha Perfeita", muito bem elogiado pelo público e crítica.


As músicas originais não encantam, a música tema é repetida tantas vezes em pequenos trechos que a torna maçante. O restante da trilha musical fica por conta de músicas já existentes ou apenas tendo algumas modificações nas letras, o que deixa a sensação de ser um filme preguiçoso, que não teve nem ao menos o trabalho de criar suas canções originais.


As coreografias seguem o mesmo padrão da cantora, robóticos e sem ritmo, com uma direção que desvaloriza estes momentos, e acabam por não agregar em nada.


O figurino não é bom. Ele não se define se está em uma época antiga ou moderna, destoando de estilos e anos, criando uma aberração de figurinos sem nenhuma construção narrativa e verossimilhança.


Uma das maiores problemáticas do filme gira em torno da falta de desdobramentos a serem enfrentados pela protagonista. Isso talvez se dê ao fato da confusa creditagem no roteiro do filme, que é assumida por Kay Cannon, porém credita também a outros como Charles Perrault e James Cordan. A falta de uma única cabeça coerente pode ter afetado drasticamente o rumo narrativo, em que a personagem acaba por não passar por uma das principais regras de um bom roteiro: A passagem de aprendizado.

A personagem começa o filme e termina com o mesmo pensamento, sem haver nenhum ensinamento ou mudança. Ela apenas ocorre em sua realidade profissional, e a mesma acaba sendo simples, sem dificuldades ou desafios a serem enfrentados

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Cinderella é um filme que tenta transformar o antigo em novo, e que pode funcionar muito bem com mensagens femininas positivas a um público mais infantil. Mas, mesmo assim, não é porque funciona para um público, que irá fazer o mesmo para outros. Sua mensagem final é válida, mas suas inúmeras problemáticas na execução comprometem o filme.


 
 
 

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Matinê Baiana

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