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Crítica: "Medida Provisória"

Um futuro próximo distópico, é assim que o novo filme brasileiro dirigido por Lázaro Ramos, “Medida Provisória”, se apresenta. Gravado em 2019, o longa finalmente chega às telas de todos (porém poucos) cinemas no Brasil. Ecoando sua temática impactante a cada instante, o filme não é perfeito (e nem procura ser), mas não deixa de ser uma excelente obra prima.

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O filme conta a história de um Brasil distópico próximo (atual) em que um governo totalitário comandado por ignorantes no poder, ordena através de uma lei, que todos que possuem "melanina acentuada” como denominados no filme, devem ser mandados imediatamente e obrigatoriamente para a África.


Acompanhamos principalmente o trio protagonista Antonio (Alfred Enoch), Capitú (Taís Araújo) e André (Seu Jorge) que se recusam, assim como inúmeros cidadãos brasileiros, a saírem do país. Os atores encaram seus personagens e entregam atuações fenomenais, imprimindo das mais variadas emoções de maneira segura através dos olhares do ator que dirige pela primeira vez um longa, Lázaro Ramos. Com sua experiência, o diretor consegue deixar seus atores respirarem a cada ato, dando momentos e expressividades para, tanto ator quanto personagem, transbordarem seus sentimentos que saltam da tela e emocionam a audiência.


Enquanto ambos os personagens de Taís Araújo e Seu Jorge são ativos, movendo-se ao longo da trama e criando ações que desencadeiam consequências, dando força a narrativa, Alfred Enoch tem leves tropeços ao atuar fora de sua língua materna, deixando em alguns momentos seu sotaque transparecer e aparentar estar tão concentrado em pronunciar as palavras corretamente, que acaba focando menos na atuação. Isso muda quando, em momentos de dor e sofrimento, o ator expressa sem nenhum diálogo, todo o seu talento e força, estando paralelo às incríveis atuações de seus colegas de elenco.

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Outra personagem que ganha destaque e é interpretada brilhantemente pela atriz Adriana Esteves é Isabel, uma das funcionárias centrais do chamado ministério da devolução, sendo a antagonista dos nossos personagens principais. Demonstrando a frieza e insensibilidade que já conhecemos em seu clássico papel como “Carminha” na novela “Avenida Brasil”, a atriz imprime novamente essas características com maturidade, sem exagerar trajetos clássicos novelescos, porém conseguindo com a mesma intensidade, repassar todos os sentimentos que a fazem uma excelente vilã.


A direção, buscando fugir dos planos convencionais, dá enfoque às atuações e em planos detalhes, sendo gratificante observar todos os traços e trejeitos dos atores, porém criando em alguns momentos, dificuldades de conseguir lincar cenas nas edições, criando cortes secos ou desconexos para intercalar acontecimentos e passagens de tempo no decorrer do filme. Soteropolitano, o diretor não deixa de adicionar sua cidade natal ao longa, mesmo se passando no Rio de Janeiro, trazendo simbolismos que incrementam o filme de forma rica e enchem os olhos para uma união cultural.


A trama em si, é interessante e atual, sendo extremamente próxima a nossa realidade brasileira é impossível não traçar comparações, mas o maior enfoque que torna o filme grandioso se dá pela sua temática, tanto nas telas como na equipe que realizou o longa.

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Tendo que combater dois blockbusters em meio a sua exibição, é essencial assistir ao filme enquanto ele está disponível em cartaz. Com uma mensagem final de tirar o fôlego, temática bem desenvolvida e trabalhada com sensibilidade além de atuações excepcionais, “Medida Provisória” é um respiro no cinema brasileiro, uma esperança em meio ao caos. É mais uma prova da força do audiovisual que deve ser valorizada pelo seu mérito, talento e capacidade de contar uma história de maneira rica e exemplar.


 
 
 

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Matinê Baiana

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