Crítica: Segredos de um escândalo (May December)
- Clara Ballena
- Jan 17, 2024
- 2 min read
Updated: Jan 18, 2024
Lançado mundialmente no dia 20 de maio de 2023, mas somente chegando aos cinemas brasileiros no dia 18 de Janeiro de 2024, Segredos de um escândalo (May December) me surpreende pelo fato de como uma trama instigante foi capaz de se manter no sigilo, tendo quase um ano de estreia em circuitos de festivais internacionais.
Talvez a dificuldade de falar de uma trama problemática em sua essência tenha facilitado, afinal, o filme não possui um conteúdo fácil de lidar: Elizabeth (Natalie Portman) é uma atriz que viaja para conhecer Gracie (Julianne Moore) e Joe (Charles Melton) que, apesar de anos casados, se envolveram em um escândalo: O relacionamento deles teve início quando Joe somente tinha 13 anos de idade e Gracie já era uma mulher de 36 anos. Agora, com sua história se transformando em uma adaptação cinematográfica, Elizabeth decide estudar a sua personagem, vivenciando o dia a dia da rotina de Gracie.
Costurando-se em uma narrativa simples com poucas ambientações e cenas elaboradas, a teia que traça as camadas da trama dos personagens é o oposto de simplicidade. Sem moralismo ou construindo algo a favor, a trama escancara o raciocínio de cada personagem, trazendo a todo o instante nuances de elementos que hora os julga, hora os defende. É interessante que não é a trama que traz isso, e sim os próprios personagens em seus diálogos e raciocínios. Trazendo uma história intrigante do começo ao fim.
Fazia tempo que um filme não me deixava boquiaberta em seus minutos finais. A jornada dos personagens nos estimula a desvendar suas camadas mais profundas, e a revelar (ou não) sua real essência. Isso faz parte de um roteiro atrativo escrito por Samy Burch e atuações impactantes, como no caso do trio que entrelaçam a trama.
A direção de Todd Haynes também cumpre seu papel, com cenas que se tornam literalmente o reflexo dos personagens. As cenas emblemáticas entre Elizabeth estudando os comportamentos de Gracie, e a estrutura em que essa modulação cresce, é algo a ser estudado e aplaudido por muitos anos. O trio parece estar em seu ápice, até mesmo o Charles Melton que, ainda que ao lado de veteranas, não se abala e entrega uma atuação com igual consistência.
A busca de Elizabeth em conhecer sua personagem também traz à tona uma crítica aos filmes baseados em fatos reais. Ela os estuda como personagens ficcionais, e não como seres que passaram por traumas e que carregam mágoas até o tempo presente. É um estudo maquiavélico e estimulante, trazendo ao público o questionamento da moralidade de maneira sublime.
May December é um filme escandaloso. Tanto pela sua trama como pela incrível performance de seus protagonistas. Ele não está em serviço de julgar os seus personagens, mas sim de trazer um retrato do mais cru e cruel de vivências entre distintas personalidades. Uma obra admirável com uma façanha impressionante.
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