top of page

Crítica: The White Lotus

Sátiras muitas vezes podem passar despercebidas aos olhares menos atentos, ainda mais quando a mesma é trabalhada de forma brilhantemente sutil. Mas, para aqueles que entram de cabeça na trama, acaba por ganhar uma excelente e profunda narrativa, como é o caso de “The White Lotus”. A minissérie segue um estilo que trabalha na sutileza e simplicidade, temas profundos carregados de sátiras e reflexões sobre a sociedade e seus privilégios. Estreando no dia 11 de julho e lançando episódios semanalmente, através de uma lenta, porém nada entediante trama, a história contém 6 episódios de aproximadamente uma hora de duração. Seu sucesso foi tão grande, que já foi oficializada uma segunda temporada com o mesmo tema, porém diferente elenco.

ree

A narrativa segue três grupos distintos que se hospedam no mesmo hotel paradisíaco de luxo no Havaí: Tanya (Jennifer Coolidge), uma mulher de luto pela morte da mãe; Uma família tradicional, tendo Nicole (Connie Britton) e Mark (Steve Zahn) como pais desinteressados na vida dos filhos Olivia (Sydney Sweeney) e Quinn (Fred Hechinger), e a melhor amiga de sua filha, Paula (Brittany O'Grady); E o casal Rachel (Alexandra Daddario) e Shane (Jake Lacy) em sua lua de mel.

Os então visitantes acabam se chocando direta / indiretamente na vida dos empregados do hotel, entre eles com maior destaque estão: O gerente do hotel Armond (Murray Bartlett) e a coordenadora do espaço de SPA Belinda (Natasha Rothwell).


Se iniciando com um mistério relacionado a um assasinato, o criador, roteirista e diretor Mike White se utiliza dessa aura apenas para fisgar o público, para então iniciar a narrativa que realmente se propõe a apresentar: Colocando desde o primeiro episódio uma clara definição do privilégio rico e branco, e de como os empregadores são tratados de modo descartável. Uma jogada extremamente criativa, visto que o criador se propõe a criar uma narrativa lenta, que deixa seus personagens fluirem em uma montanha de sentimentos e situações, de modo que não seja corrido, porém que também não deixe o público entediado.


Cenas comuns, e até mesmo situações simplistas, são carregadas por uma composição sonora eletrizante feita de forma distinta por Cristobal Tapia de Veer. A musicalidade temática da região misturada com um frenesi rítmico, deixam o público ligado a cada situação que ocorra, não importa sua relevância para a narrativa. E essa intensidade não é somente para deixar o público atento, acreditando que algo de larga escala irá ocorrer, e sim pelo fato da série nos colocar a todo o instante na pele dos privilegiados. Mesmo que algo seja simples, para essas pessoas que estão de férias em um local paradisíaco, qualquer erro ou situação já se torna algo de grande escala, de extrema importância, e entramos em uma imersão tão profunda, que acabamos por acreditar no mesmo

ree

A cadeia de eventos é feita de modo coeso, estando tudo interligado. Desde os enquadramentos de câmera, as transições de cenas e a paleta de cores, a criação geral da série trabalha a todo o instante a nos levar aos momentos finais dessas férias paradisíacas. É uma construção extremamente trabalhada a nos fazer acreditar na naturalidade da cadeia de eventos, nos levando a acreditar que vale a pena acompanhar os 3 núcleos que nos são apresentados, mesmo eles sendo esnobes e banhados de privilégios.


As atuações de todos são exemplares, o peso do elenco faz jus e os atores sabem lidar muito bem com seus papéis, trazendo naturalidade aos seus personagens. Os diálogos soltam indícios de tensão e agravamento, que vão criando uma cadeia de eventos com lógica, coesão e profundidade, mesmo com os personagens privilegiados sendo profundamente rasos, porém únicos em suas singularidades.


Todos os detalhes são importantes nessa série, seja o modo como cada personagem surge em cena, e depois não temos mais notícias; Seja pelas situações interligadas e de como os mais ricos sempre se livram de situações, enquanto a classe social mais baixa acaba levando as consequências por suas atitudes… Cada detalhe é muito bem executado e trabalhado, criando uma narrativa arriscada, mas que impressiona e sabe executar brilhantemente o seu papel.


“The White Lotus” é uma história singular, que para olhares rasos possa parecer uma trama simplista, em que o roteiro não teria sido muito bem trabalhado, afinal, a trama quebra uma regra fundamental de que todos os personagens ao longo da trama, nunca devem voltar para o ponto inicial de sua jornada. Mas, ao perceber o olhar inicial que a série se propõe, a reconhecer sua crítica social e todas as nuances que apresenta, não tem como não reconhecer sua genialidade e que é uma fantástica obra.


 
 
 

Comments


Matinê Baiana

Receba nossa Newsletter semanal!

Obrigada!

©2021 by Matinê Baiana. Proudly created with Wix.com

bottom of page