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"El Conde": A Estrada do Inferno é Pavimentada de Boas Intenções

Pablo Larraín não é estranho à figuras históricas. Tendo dirigido "Jackie", "Spencer" e "Neruda", o diretor chileno sempre escolheu figuras que de certo modo foram vítimas de opressão. É com surpresa então que em 2023 ele faz sua estreia apresentando sua versão "fantasio-realista" do responsável do maior genocídio no Chile: Augusto Pinochet.

um homem em traje militar parado num salão antigo

Lançado apenas 4 dias depois do 11 de setembro - data que marca golpe de estado que deu início á ditadura de Pinochet no Chile em 1973 - "O Conde" é um filme que explora a possibilidade fantasiosa de Pinochet ser um vampiro e escapado da morte histórica em 2006. A partir daí, a história se desenvolve em três núcleos diferentes: O de Pinochet tentando morrer, o de seus cinco filhos atrás da herança e o da freira tentando por tudo abaixo.


Similar a seu projeto de 2016, "Neruda", "El Conde" exige que o espectador tenha alguma noção histórica e política para que possa pegar todas as referências e piadas ácidas que o roteiro de autoria do próprio diretor com Guillermo Calderón joga em cenas com uma displicência sínica que é impossível não causar nenhuma reação no público.

gif de um homem sobrevoando ruas modernas

Filmado totalmente em preto e branco, "O Conde" é cheio de arquétipos e temas que assim como seu protagonista, são imortais. Alguns deles são: O vampirismo político, a monstruosidade como parte da essência humana e o jeito atemporal como lidamos com ele.


Larraín não parece interessado em individualizar Augusto Pinochet, interpretado por Jaime Vadell, mas busca explorar os temas citados anteriormente através dele. O que poderia ter sido uma ideia muito bem feita, se produzida com mais cuidado e tato.



Embora grande parte da população que assistiu ao filme tenha noção dos horrores cometidos pelo verdadeiro Pinochet, nada disso é confrontado no filme de forma séria durante toda a duração do filme, e causa não só um estranhamento vindo do diretor, mas também um sentimento de revolta.


Além disso, o fato de o filme ter entrado no catálogo da Netflix tão perto de uma data tão sensível ao Chile parece uma desconsideração e talvez uma crueldade quase impossível de ser compreendida.

cinco pessoas vestindo roupas de frio e segurando objetos

Para os ávidos por uma retratação política, cuidado. Apesar de "O Conde" apresentar uma abertura para esse viés, Larraín envereda por um caminho muito mais covarde, e talvez realista, ironicamente, ao apresentar a ideia de que nenhum mal é realmente derrotado.


Dentro da família, Larraín e Calderón ainda apresentam o vampirismo em suas diversas interpretações: os filhos atrás da herança, a esposa (Gloria Münchmeyer) atrás da vida eterna, o próprio Pinochet atrás de sua glória.

Uma jovem mulher sentada numa casa com papéis no colo.
Paula Luchsinger como "Carmen"

No outro lado do espectro temos Carmen (Paula Luchsinger), que começa como uma antagonista mordaz e extremamente consciente da verdadeira natureza daquelas pessoas, mas que no decorrer do longa, vai sentindo sua resistência se esvaindo. Carmen é talvez uma representação da audiência, que inicia o filme com sete pedras na mão, esperando um desfecho positivo e justo mas que, sem explicações, se vê compelida a terminar aquela narrativa custe o que custar.


E custa muito.


No final, "O Conde" é um filme que requer uma visão de longo alcance e muita fé no que o diretor pode trazer como melhoramento para ser apreciado, mas como produto em si mesmo, é uma recontagem cínica e cruel, que cheira á uma adaptação para estrangeiros até pelo uso deslocado da língua inglesa.


"El Conde" está disponível na Netflix e conta com 1 hora e 51 minutos de duração.



 
 
 

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Matinê Baiana

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