"Moonlight: Sob a Luz do Luar": Uma Perspectiva Escondida que Brilhou
- Helena Vilaboim

- Apr 7, 2022
- 3 min read
É sempre uma surpresa boa quando os filmes saem dos caminhos clichés para também abraçar experiências e realidades mais escondidas, que são julgadas inferiores ou pertencentes a um nicho tão pequeno que não valem a pena serem exploradas.
"Moonlight: Sob a Luz do Luar" (Moonlight) quebra todos esses estigmas, e ainda levou os oscars de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado em 2017, além de outros prêmios similares. O longa está disponível na HBO Max e conta com hora e 50 minutos de duração.

Lançado em 2016 e dirigido por Barry Jenkins, que também escreveu o filme junto com Tarell Alvin McCraney, "Moonight" segue Chiron, um garoto negro que com o pai ausente e com a figura materna problemática, tem que aprender a construir sua identidade a partir do que ele é, do que ele precisa ser em termos sociais, e do que ele quer ser.
O longa é dividido em 3 atos bastante delimitados, cada um focado em um período da vida do personagem: a infância formadora, a adolescência realista e a vida adulta complicada. Em cada um desses atos, a audiência acompanha Chiron por sua vida, suas descobertas e eventualmente suas escolhas numa narrativa intrincada e cuidadosa.
A beleza de "Moonlight" é o seu ritmo e atitude realista para com a narrativa, que sempre bem fundamentada, não deixa de oferecer a cinematografia linda de James Laxton. É como se o diretor e o cinematógrafo trabalharam juntos para romantizar uma vida difícil, construindo o personagem até nesses momentos silenciosos e talvez muito mais neles do que em cenas sonoras.

A escolha do elenco participante foi fundamental para construir a atmosfera realista do filme. Isso porque os três atores escolhidos para viver o protagonista são muito parecidos fisicamente. Adicionando á isso, a performance de todos os três é complementar ás outras duas, construindo Chiron pelo jeito que ele fala, seus maneirismos, seus olhares.

O arco do personagem, embora simples em termos de causa e consequência é pesado quando se trata de experiências e influências de personagens adultos em relação ao menino.
É nisso que conhecemos a figura paterna de "Juan" (Mahershala Ali), que é o centro da bússola moral de Chiron quando é criança e mais tarde um reflexo de sua vida adulta. É interessante que mesmo com o personagem tendo pouco tempo de tela, a relação dos dois é detalhada e emotiva.

Em contraste, temos Paula (Naomi Harris), a figura materna ausente e problemática que por seu antagonismo em relação ao filho, termina por também moldá-lo de certa forma.
Embora esses dois personagens sejam agentes importantes no movimento de mudança de Chiron, o que mais tem essa influência em uma linha constante nos três atos do filme é Kevin, o amigo de infância e o primeiro amor do protagonista. Agindo como causador de mudanças das quais Chiron não volta o mesmo, Kevin serve como um guia e antagonista.

É pela dinâmica dos dois que a segunda parte da história é explorada: o acesso á identidade própria através da sexualidade. É a segunda face da moeda da realidade que é muitas vezes escondida: a homossexualidade em homens negros.
O único aspecto que pode ser interpretado como pensado com menos cuidado é o terceiro ato do longa, que aborda a vida adulta do personagem. É quando também o ritmo do filme muda um pouco, e a audiência fica com a sensação de ser menor do que os outros dois.
Mas a impressão que dá, depois de pensar um pouco sobre o assunto, é que a decisão de retomar a narrativa naquela parte foi em prol da manutenção do tema real, e também na tentativa de fugir da necessidade de entregar algo interessante nos momentos finais. Afinal, a vida não é só contada pelos melhores momentos, mas pelos mais íntimos também.
Em conclusão, "Moonlight: Sob a Luz do Luar" é um filme sobre identidade, sexualidade e resistência, composto por imagens cuidadosamente construídas, e uma narrativa contada de um ponto de vista por vezes ignorado. Vale muito a sessão.



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