"Morte no Nilo": Entre erros e acertos, um filme medíocre
- Helena Vilaboim
- Feb 10, 2022
- 4 min read
“Morte no Nilo” (Death on the Nile) é o segundo filme da provável franquia baseada no personagem criado por Agatha Christie: Hercule Poirot. Essa segunda parte também foi dirigido por Kenneth Branagh e escrito por Michael Green. O longa conta com 2 horas e 7 minutos de duração e vai estrear nos cinemas brasileiros no dia 10 de Fevereiro de 2022.

A narrativa desse filme segue Poirot (Kenneth Branagh) durante uma viagem pelo Egito. Quando ele presencia o drama crescente de membros da alta sociedade, que acaba bem assassinato, Poirot tem que achar o assassino antes que o barco em que todos estão chegue ao porto, possibilitando o escape do culpado.
Desde os trailers já é possível saber que é o assassino, já que o motivo também fica claro durante os mesmos e o motivo é com certeza um dos mais antigos para o cometimento do crime. Também há a questão de desde que o primeiro filme estreou, sabemos que é inteligente não confiar completamente em ninguém numa história de Poirot.
Há um outro fator, também vindo do primeiro filme, que é um dos clássicos de Agatha Christie, que é o ambiente limitado. Isso cria uma tensão a mais, pois a segurança de personagens queridos estão também limitadas á impossibilidade de fuga. Morte no Nilo brinca muito bem com isso em algumas cenas, intercalando momentos tranquilos com caos completo e desconfiança.
Com isso em mente, a narrativa dá voltas e voltas tentando despistar a audiência da trama simples, e até que o roteiro de Michael Green consegue isso por alguns momentos. Nesse caso, a diversão do filme é tentar deduzir como as coisas chegaram até aquele ponto, já que o final é óbvio.
Mas o roteiro também tem falhas graves. O longa, por exemplo, inicia bem lento e isso que dura até metade do segundo ato, além disso, dado ao número grande de personagens a apresentar, o roteiro se apoia bastante em diálogos expositivos que as vezes tiram a graça de descobrir coisas por conta própria.

Mas o pior é a tentativa de exploração da psique do protagonista, Poirot, com a cena de introdução mostrando seu passado na guerra e tentando aprofundar o tema de amor e paixão. Mas o filme tem tantos outros aspectos para acompanhar e mover para frente, que salvo em algumas rápidas cenas em que o protagonista é, de forma pouco característica, estranhamente sincero com alguns personagens sobre sua vida pessoal, o tema fica de lado, e parece forçado.
Outra coisa que a audiência vai sentir falta é da exploração das intrigas entre os personagens. Há muitas falas em que fica claro que alguns têm um passado turbulento, ou que não concordam com os outros, mas não ver de fato isso acontecendo, nem que seja no fundo de alguma cena, demonstra falta de atenção aos detalhes. E principalmente, compromete o envolvimento da audiência na solução do crime, pois isso faz com que todos os outros personagens pareçam igualmente suspeitos e inocentes ao mesmo tempo.

De positivo, o filme conta com um elenco maravilhoso, com Gal Gadot e Emma Mackey como as rivais deslumbrantes, Linnet e Jackie, que embora não tenham o desenvolvimento necessário para vender o sentimento da tragédia de uma amizade arruinada, roubam todas as cenas em que interagem, Mackey em especial.
Armie Hammer tem uma presença bem mediana no filme, e seu personagem é mais um acessório da narrativa do que um personagem em si, pelo pouco desenvolvimento que ele tem durante o longa. Similar, Kenneth Branagh com seu Poirot entrega uma performance estável que não se distingue muito desde sua primeira aparição em 2017.

Letitia Wright e Sophie Okonedo têm uma presença energética como a fabulosa cantora Salomé e sua sobrinha Rosalie. Elas são duas das personagens de cor do filme, o que é um avanço comparado ao primeiro filme. A representatividade aqui, não só racial, mas LGBT, é introduzida naturalmente, assim como a menção de questões sociais importantes na época e ainda hoje.
O que impressiona em momentos, é o cenário. Templos, as pirâmides de Giza e o rio Nilo são ricamente mostrados, mesmo que a direção de Branagh não seja exatamente maravilhosa, apesar de cumprir com o papel que promove alcançar. São imagens lindas, que recebem a devida atenção que merecem. Inclusive aquela sutil, ou nem tanto, menção a um dos próximos projetos da Gal Gadot.

Outra coisa que chama atenção no filme é o uso dos sons. Desde a trilha composta por Patrick Doyle até a sons em cena, como os disparos de tiros e rochas. Esses dois últimos são altíssimos, o que pega a audiência de surpresa por sua veracidade.
Em conclusão, Morte no Nilo é um filme mediano de mistério, que infelizmente não se deixa aprofundar em questões mais emocionais e privando assim o envolvimento da audiência com os personagens, e por consequência o que acontece entre e entre eles. Apesar disso, talvez seja uma boa ida ao cinema no dia em que os ingressos estejam mais baratos para ver um bom trabalho do elenco.
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