"O Tigre Branco": Uma Realidade Desconfortável
- Helena Vilaboim
- Aug 6, 2021
- 2 min read
O Tigre Branco (The White Tiger) é um filme original Netflix baseado num livro de mesmo nome escrito por Aravind Adiga. Com duração de 1 hora e 40 minutos e tendo sido liberado pela plataforma de streaming em 2021, "O Tigre Branco" é um filme que vai ficar na sua cabeça por dias a fio.

A história segue Balram Halwai (Adarsh Gourav), um jovem da classe miserável da Índia, que ele decide mudar de vida usando todos os métodos necessários para alcançar seus objetivos. Por sua jornada, temos uma narrativa que lembra a premissa de “Quem quer ser um Milionário”, mas de forma mais realista e cruel.
O filme foi feito com o propósito de mostrar uma face selvagem dos efeitos do capitalismo na Índia, e todos os envolvidos no longa, fossem produtores, o diretor, e o próprio elenco, todos estavam profundamente envolvidos com a história que tinham para contar, e é uma missão que se torna perceptível a quem assiste ao longa.
A direção de Ramin Bahrani, que também assina o roteiro junto com Aravind Adiga, é sincera e simples, mas que não deixa de ser extremamente impactante, aqui ele não se vale de filtros e planos inovadores, mas foca nos que a cena tem a oferecer por si só: O roteiro brilhante de partir o coração, e as performances de tirar o fôlego dos atores em cena.

Do núcleo principal aos atores que têm menos cena
s, o elenco como um conjunto dá um show de performances, dando atenção especial para Adarsh Gourav, que tem a missão de interpretar um personagem extremamente complexo, tendo ainda poucos projetos em seu currículo. Gourav é uma estrela em ascensão, e ele provavelmente vai estar envolvido em muitos projetos ganhadores de prêmios no futuro.
“O Tigre Branco” virou um clássico da literatura Indiana muito antes do filme, e com isso, vieram personalidades bem trabalhadas desde o material original. O próprio Balram passa por uma mudança ousada e arriscada do ponto de vista do desenvolvimento do protagonista: ele é corrompido pelo sistema. Mas pelo ambiente em que ele está inserido, e a relação com outros personagens, não importa o que ele faça, o espectador sempre vai entender de onde está vindo as suas atitudes, e é possível que isso aumente a simpatia de uns com o protagonista.
O longa é uma crítica dura ao sistema de classes sociais e econômicas, presente não só na Índia, mas outros países em fase de desenvolvimento, como o próprio Brasil. Na duração do filme, uma realidade completamente desconhecida para uma minoria de nós é apresentada. Temos conflitos sobre isso durante todo o filme, que provam que a teoria de Maquiavel em “O Príncipe” estava certa: ninguém nunca vai abrir mão do poder.
Até com personagens que parecem quebrar a dinâmica estabelecida, vemos que no momento em que seu discurso libertário é desafiado, a escolha mais confortável é a escolhida, o que acaba até legitimando as atitudes radicais do protagonista, pois é provado que não há outra forma de escape.

“O Tigre Branco” é uma obra crítica e ousada, que foge dos padrões de filmes comuns, e como resultado, a mensagem do longa fica marcada na nossa cabeça, e com isso cumpre seu propósito.
Adorei o comentário, especialmente as referências comparativas!!!! Apurou diversos pontos sobre a origem do filme, que não sabia... Mas acho que foi apontada uma válvula de escape, no início do filme, qd ele foi chamado para estudar na capital; só que a familia o retirou da escola. Porque só educação salva! Por outro lado, para mim ele perdeu minha confiança (e simpatia) com o ato final praticado (não vou dar spoiler...). Ainda bem que tudo se passa em 2010! E alguma coisa deve ter melhorado na Índia (ou não! Preciso agora ler sobre isso.. kkk). Por fim, a sensação que tive, além da angústia de tantas sequências de atos humanos equivocados, é de que estamos no paraíso aqui no Brasil,…