"Perfect Blue": O que te faz questionar a realidade?

"Perfect Blue" é um clássico do cinema japonês desde sua estreia em 1997. Apesar de ser uma animação, o filme aborda temas pesados, e não tem medo de mostrar cenas de violência e nudez explícitas, que salpicam a narrativa de suspense que deixa alguns filmes ocidentais no chinelo.

Infelizmente, pela idade e popularidade do filme, que inspirou muitos outros, Perfect Blue não impressiona muito a audiência que já se acostumou com os artifícios que a narrativa emprega para confundir o espectador, que foram empregadas em muitos outros desde 97.

O longa segue Mimarin (Junko Iwao), uma jovem que participa da banda de pop japonesa "CHAM!". Quando Mima larga o trio para focar na carreira de atriz, alguns fãs não aceitam a mudança e ela se vê em situações violentas e confusas que a fazem questionar a sua realidade e sua segurança.

Por ser um filme curto, "Perfect Blue" usa e constrói muito da sua narrativa em imagens e pequenas partes do mistério no background das cenas, criando um mundo muito mais rico e vivo do que seria esperado, principalmente levando em conta que o longa foi o primeiro projeto do diretor Satoshi Kon.

Embora o aspecto de mistério no roteiro escrito por Sadayuki Morai tenha perdido sua imensa força através das duas décadas desde o lançamento do filme, "Perfect Blue" ainda impressiona, nos entregando uma narrativa contida em si mesma, e que é um retrato assustador da ambição, seja de crescer na carreira profissional, seja de possuir completamente outra pessoa.

O filme ainda aborda a questão da autonomia de personalidades públicas, e questiona se essas pessoas com a base de fã tão grande realmente podem ser livres da persona criada para agradá-los, ou viram escravos dela a fim de alcançar mais popularidade e fama, e o risco de contrariá-los.

Quanto à quebra entre realidade e insanidade, Kon as vezes apela para a repetição de uma mesma situação e cortes rápidos, que embora sejam eficientes, podem confundir a audiência mais do que imergi-la na sensação proposta.

"Perfect Blue" é uma animação adulta, e durante o filme há cenas de abuso sexual, nudez e transtornos mentais. Essas imagens chocam, e embora essenciais para a contextualização da história, é impossível não se perguntar se Kon não se deixou levar um pouquinho, escorregando para o lado da autoindulgência.

Concluindo, "Perfect Blue" é um bom filme, que prende o espectador do início ao fim, e merece o seu lugar como "clássico cult", mas que hoje em dia é idealizado muito mais pela sua estética cuidadosa e impressionante do que pelo poder da narrativa que foi diluído entre muitas outras homenagens.

O filme conta com 1 hora e 25 minutos de duração e ele não está disponível em nenhuma plataforma de Streaming no Brasil, mas pode ser encontrado no youtube.