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"Sentença": Por Dentro do Sistema

Updated: Feb 19, 2024

Países como Estados Unidos e Inglaterra capitalizaram bastante em cima de organizações reais como o FBI e o MI6. Partindo dessas instituições que são reais e criando narrativas que são - mais ou menos - fincadas em realidades, esses países não só criaram um império de entretenimento policial, mas também trouxeram essa realidade para o público, aumentando a credibilidade e confiança nessas organizações.


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Camila Morgado em "Sentença"

O Brasil está começando a usar da mesma técnica, mas em vez de tentar estabelecer uma relação de confiança, nossos cineastas sabem muito bem que nosso sistema tem muito o que melhorar, e usam do entretenimento para criticar falhas óbvias, como é o caso das séries "Bom dia, Verônica" e "O Mecanismo".


"Sentença" é uma série que conta com apenas seis episódios em sua primeira temporada, e está disponível na plataforma Prime Vídeo. A narrativa segue a advogada Heloísa Luz (Camila Morgado), que acredita fielmente no poder transformativo da justiça e no direito que todos os cidadãos tem de acessá-la.


Quando sua vida pessoal entra em contato com sua vida profissional, Heloísa cai numa teia de corrupção e violência que envolve o sistema jurídico brasileiro e afeta sua relação com seu marido, Pedro (Fernando Alves Pinto), seus avós, sua mãe e consigo mesma.


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Fernando Alves Pinto e Samya Pascotto em "Sentença""

"Sentença" ainda se divide em outros três núcleos narrativos que no fim das contas estão interligados. Por eles, ficamos sabendo do trabalho da polícia federal contra o tráfico, a hierarquia de poder dentro de facções e o dia a dia em uma prisão feminina em São Paulo.


A série dirigida por Anahí Berneri e Marina Meliande não é para fracos. Sentença tem a indicação classificativa de 16 anos, e embora não seja tão pesada em termos de violência explícita, ela trata de temas delicados sem nenhum tipo de desculpa, tocando na ferida sem nenhum remorso.


Ela tem seu grande trunfo no elenco talentoso que possui, especialmente Morgado, que leva a trama nas costas. Infelizmente, "Sentença" ainda sofre com resquícios da estrutura das novelas brasileiras, que embora não seja algo inerentemente ruim, aqui fica meio fora de lugar e sobressai em péssimos momentos.


Um deles é a tentativa de movimentar mais do que os núcleos base da trama, adicionando e gastando tempo com arcos que poderiam ser facilmente trabalhados em uma possível segunda temporada, como o desenvolvimento do Hugo (Victor Hugo Martins), ou os inúmeros flashbacks da infância de Heloísa, que não impactam de maneira significativa na trama principal, muito pelo contrário: tiram o espectador daquele outro detalhe mais importante.


Fora essas falhas estruturais, "Sentença" é muito feliz ao entregar as mensagens que a série se propôs a compartilhar com o público de uma forma bastante eficiente. Ela aponta os pontos em que o governo falha com a população - principalmente com os indivíduos mais necessitados de apoio -, e a briga para quebrar esse ciclo.


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Lena Roque em "Sentença"

Há também uma forte crítica do processo dolorosamente burocrático do sistema legal brasileiro, que embora funcione em tese, as vezes a justiça chega tarde demais para as vítimas já tão lesadas desde o início, que no final das contas, nenhuma justiça é feita, como é o caso de Dinorah, interpretada poderosamente por Lena Roque.


A atriz, que participou de poucos filmes e novelas brasileiras, é uma das personagens que mais chama atenção durante a trama. Sua personagem é uma das mais simpáticas da série, e a audiência sente seu sofrimento pela performance de Roque.


Concluindo, "Sentença" é certamente uma das melhores séries brasileiras nesse momento, que entretém e critica ao mesmo tempo, talvez sendo aquele iniciozinho de amor bruto que precisamos para primeiro notar mais intimamente como os problemas apresentados na série afetam a grande população e iniciar o ciclo de melhoramento.






 
 
 

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Matinê Baiana

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