"The King's Man: A Origem" - Uma bifurcação na franquia
- Helena Vilaboim

- Dec 23, 2021
- 3 min read
Seguindo a ordem dos filmes “Kingsman: O Serviço Secreto” (2014) e “Kingsman: O Círculo Dourado” (2017), “The King’s Men: A Origem” foca nas circunstâncias em que a Agência secreta que já conhecemos há algum tempo foi criada. O filme estreia nos cinemas brasileiros em 6 de Janeiro de 2022, e tem a duração de 2 horas e 10 minutos.

A narrativa começa 100 anos antes do primeiro filme, e um pouco antes do início da primeira Guerra mundial. Seguimos Orlando Oxford (Ralph Fiennes), um pacifista, que entra em conflito com seu filho patriota, Conrad (Harris Dickinson). Quando a morte do Arqueduque Ferdinando da Áustria começa a guerra, Orlando e Conrad, junto com Polly (Gemma Arterton) e Shola (Djimon Hounsou), correm contra o tempo para preveni-la.
Matthew Vaughn, diretor dos longas anteriores da franquia, retoma ao cargo aqui talvez de forma menos inspirada do que no início dela (Lembra da cena da igreja?), mas não deixa de trazer á narrativa certas cenas rápidas que tem detalhes que remetem á narrativa do filme toda, ou que relembram a audiência do que está em jogo caso nossos mocinhos não consigam completar sua missão.
Infelizmente o que é pouco desenvolvido aqui é o contexto da relação entre os personagens. A dinâmica entre eles funciona bem, mas o filme se beneficiaria muito em aprofundar essas relações de parceria e amizade. É possível que pela vasta quantidade de personagens, e pouco tempo de tela, os produtores podem ter decidido investir esse desenvolvimento entre pai e filho: Orlando e Conrad.
O inédito nesse filme é o uso bem fiel da história real fazendo parte da história inventada, com certas modificações para inserir nossos novos protagonistas no lugar certo e na hora certa de participar de momentos históricos decisivos na narrativa costurada por Karl Gajdusek e pelo próprio Matthew Vaughn.
E nisso que somos apresentados á várias figuras reais, como Rasputin (Rhys Ifans), o Tzar da Rússia, Nicolau; o Kaiser Wilhelm da Alemanha e do Rei George (os três interpretados por Tom Hollander), além do próprio Arqueduque Ferdinando (Ron Cook) e de Mata Hari (Valerie Pachner).

Rhys Ifans brilha em seu papel, fazendo sua interpretação de Raputin impor risco aos protagonistas, e fazendo parte de vários momentos mais cômicos, estes pesados para o lado do grotesco e escatológico. Ele faz a audiência se remexer, desconfortáveis, na cadeira tentando evitar a imagem que a cena oferece. Além disso, o personagem é rapidamente desenvolvido para demonstrar a influência que Rasputin tinha na corte russa, que é um detalhe real e assustador.

Pelos olhos de Conrad, o jovem rebelde e querendo cumprir seu dever para com a Grã-Bretanha, vemos o lado das trincheiras da guerra, a brutalidade e a desconfiança de soldados exaustos e paranoicos. É um jeito de novamente lembrar a audiência que apesar de a maioria das cenas de “contenção dos danos” ocorrerem em salas suntuosas e bailes de gala, o problema que o grupo enfrenta é de vida ou morte de milhares de pessoas.
Apesar de adotar um tom sério muitas vezes, assim como os outros dois filmes anteriores, “The King’s Man: A Origem” mantém um fundo absurdista, que no extremo de poucas cenas, beira o ridículo. Mas isso serve para lembrar aos que assistem que a franquia é baseada em uma série de quadrinhos, e por isso tem certa liberdade para dobar alguns aspectos da realidade.
O roteiro é inteligente em explicar a origem do sistema hierárquico por trás da agência Kingsman, e de que valores ela foi fundada, criando na audiência um senso de propósito, ao mesmo tempo que acaba infligindo novo significado e contexto aos filmes anteriores. Depois de 100 anos, a agência continua mantendo os mesmos valores? Vale a pena re-assistir os primeiros para saber como isso funciona agora.

Além disso, apesar de parecer ter um tom mais patriota, o filme deixa bem claro que apesar de a agência funcionar em paralelo com o governo Britânico, ela não é subjugada a ele, podendo agir de modo livre e com valores próprios e estendidos ao mundo todo.
Em conclusão, “The King’s Man: A Origem” é um filme que tem a possibilidade de impressionar durante o tempo que está em tela, mas que raramente vai ser um daqueles filmes extremamente memoráveis. Ele serve ao propósito de contextualizar a narrativa “original”. Só fica a pergunta: Para onde a franquia vai agora?



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