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"Um Olhar do Paraíso": Como Conduzir uma Narrativa Apática

Um Olhar do Paraíso” (The Lovely Bones) é um filme de 2009, baseado num livro homônimo, que foi dirigido por Peter Jackson e escrito também por ele em conjunto com Fran Walsh, Philippa Boyens e Alice Sebold (a escritora do romance). O filme tem 2 horas e 16 minutos de duração e está disponível no catálogo da Netflix.

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Soirse Ronan como "Susie Salmon"

A narrativa, que se passa nos anos 70, segue Susie Salmon (Soirse Ronan), uma garota de 14 anos que é assassinada. Entre o céu e a terra, Susie assiste sua família inconformada tendo que passar pelo período de luto e fazer as pazes com tudo que lhes foi tirado e ainda assim seguir em frente.


De início, o filme parece que vai ser um clássico do gênero de suspense com toques de terror sobrenatural, mas ao decorrer da narrativa, o filme mistura elementos desses gêneros com algo que se assemelha a uma história gospel, formando uma mistura que não funciona, forçando bastante a força de vontade do espectador.


A confusão de temas e gêneros do filme é certamente o resultado de quatro mãos escrevendo o roteiro e da batalha de quem teria o maior peso na narrativa, e por isso “Um Olhar do Paraíso” é um filme que poderia ter sido marcante e extremamente impactante, mas que entrega mensagens opostas e falha a proposta inicial.

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Mark Wahlberg como "Jack Salmon"

A construção dos personagens é estranha, no sentido de que mesmo que Susie Salmon seja a protagonista, ela não é uma personagem ativa, até por já começar o filme morta. Mesmo assim, é um erro terrível fazer uma personagem que não tem agência própria. Tentando consertar isso, a audiência se volta para a família, em especial o pai Jack (Mark Wahlberg) e a irmã Lindsey (Rose McIver), que são os mais ativos na narrativa.

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Rose McIver como "Lindsey"

Suas ações porém, não são recompensadas pelo roteiro, inclusive chegam a ser desencorajadas, tomando um rumo diferente do esperado desse tipo de filme e com certeza irritando e frustrando parte da audiência. A mensagem que o roteiro passa é de que eles não deveriam procurar por respostas.


"Um Olhar do Paraíso" também tem uma vasta gama de personagens secundários sem arco, que fazem o espectador se perguntar da necessidade deles ali. São personagens que se melhores explorados, ou se a sua relação com a protagonista tivesse sido desenvolvida, teriam uma participação talvez essencial para a trama, mas isso também é jogado de lado pelo roteiro.


Outro pecado narrativo é a saída fácil de conflitos. Se dois personagens não estão lidando da mesma forma com a situação, o filme é rápido em tirar um deles de cena, privando a audiência de um conflito que teria sido interessante de assistir. Isso não acontece só uma vez, mas algumas vezes durante o filme, treinando a audiência a já não esperar muito do desfecho.


dMas na realidade, o maior erro desse longa é a condução da narrativa em volta da questão "Vingança versus Justiça Divina". É essa mensagem que restringe a ação dos personagens, e a maior fonte de frustração da audiência. É a lição de que se você foi mau na vida, em algum momento vai ser o seu momento de justiça divina, e por isso, suas vítimas podem ficar tranquilas em seu luto sabendo que isso vai acontecer.


É um desfecho surreal para uma narrativa que foi baseada num caso real, e que machuca a ideia de dar protagonismo á vítima e não ao criminoso, um foco que deveria ser mais explorado. O filme entrega ideias conflitantes e sofre por causa disso.


No entanto, "Um Olhar do Paraíso" é um filme que conta com um elenco maravilhosamente bem preparada. Desde a performance emocionante de Soirse Ronan á criação do monstruoso Mr Harvey (Stanley Tucci), todo o elenco dá o seu melhor para dar vida a essa história tão falha.


A direção de Peter Jackson também é um bônus. Ele trabalha bem com as cenas mais realistas de suspense, utilizando muito bem os atores, em especial Ronan e Tucci. São realmente cenas de quebrar o coração, e que elevam o perigo e a tensão do desfecho que decepciona.

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Stanley Tucci como "Mr Harvey"

Mas a transição da realidade para cenas em que o conceito de "céu" é explorado é cheio de cenas de efeitos especiais que parecem forçadas demais no contexto do filme, destacadas demais do resto.


Acredito que "Um Olhar do Paraíso" poderia ter sido um filme melhor, e contava com o elenco certo para fazê-lo acontecer da melhor forma possível, mas nesse conflito de temas e lições que se propõe a passar para a audiência, fica aquém de ambos.

 
 
 

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Matinê Baiana

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