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"Volver": A Coragem de Voltar Atrás


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Penélope Cruz como "Raimunda"

"Volver" é facilmente um daqueles filmes que te deixam com um incômodo devido ao tema pesado, mas como todo bom melodrama do mestre Almodóvar, termina deixando a audiência num pé mais esperançoso do que no início do filme.


O longa espanhol está disponível na Netflix, e conta com 2 horas de duração. A narrativa primariamente segue Raimunda (Penélope Cruz), uma jovem mãe que se vê tendo que encobrir um assassinato enquanto tenta equilibrar a vida profissional e pessoal, que entra em crise quando o fantasma de sua mãe começa a aparecer.


O tema da maternidade sempre é muito forte nas narrativas de Almodóvar, e a carga emocional que esses filmes levam para a audiência é grande. Em "Volver", vemos que o diretor quer explorar o relacionamento mãe-filha partindo do ponto de uma falha materna em proteger a filha e a quebra desse ciclo a partir de um trauma do passado.


"Volver" explora a experiência feminina em todas as suas capacidades de forma rica e complexa, retratando suas protagonistas como mães, filhas, irmãs, trabalhadoras e no centro de tudo, como vítimas e protetoras. E todos esses aspectos se confundem, e tecem a narrativa de forma interessante e cativante, nos mostrando personagens reais.


Assim como a complexidade de suas personagens, "Volver" não pode ser tão facilmente enquadrado em um gênero ou outro, mas numa mistura entre drama, comédia e suspense, perfeitamente equilibrados no longa de 2 horas. A audiência nunca é deixada para se acomodar em uma faceta só por muito tempo.


A direção de Almodóvar é sempre exagerada no uso de cores, principalmente o vermelho, aqui bastante presente na vestimenta das três protagonistas, talvez retratando a força e o destaque feminino. É impressionante o nível de detalhe colocado em cada cena e cenário. As casas sempre parecem habitadas, as cidades sempre vivas, mas de certa forma nunca completamente realistas. Esse é o presente de Almodóvar para a audiência: Um mundo em que tudo pode ser resolvido com uma boa conversa explicatória.


O que encanta no cinema de Pedro Almodóvar é justamente isso: Um mundo de realismo mágico em que tudo é mais. Mais colorido, mais dramático, mais sério e mais simples. E de certa forma, mais honesto, mais verdadeiro.

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Uma coisa interessante do filme é o respeito e a reverência que Almodóvar tem para com suas protagonistas. Apesar de tocar em temas como abuso sexual e negligência, além do trauma materno, ele nunca mostra esses acontecimentos em cena, preferindo explorar as consequências deles entre diálogos muito bem posicionados e escritos.


Além disso, a dinâmica entre as personagens é extremamente bem construída, A mais interessante sendo o paralelo entre Raimunda e sua mãe, que forma um padrão que quase se repete, mas desfecha com a quebra de um ciclo.


Presente em muitos outros projetos do cineasta, Penélope Cruz dá um show. Sua performance é fluida, se encaixando perfeitamente em todos os subgêneros de "Volver", provando que essa parceria de longa data foi forjada muito bem. Sua performance emociona, encoraja e empodera.


O restante do elenco feminino, que povoa o longa por completo também chama atenção. Em especial Carmen Maura no papel de Irene e Blanca Portillho como Agustina. Essas duas são o coração do suspense do filme, e dão voz ao tema de que segredos viram herança e atormentam gerações se não forem libertos, como um novo estilo de contos de fantasmas.

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Em conclusão, "Volver" é um filme extremamente rico narrativamente e esteticamente, reunindo em suas duas horas de duração todas as características de uma narrativa de Almodóvar, que arrisca dar gatilho em muitas mulheres e meninas, mas que nos oferece uma espiadinha na complexidade da relação entre mães e filhas.



 
 
 

1 Comment


Tatiana Pamponet
Tatiana Pamponet
Jan 30, 2023

Adoro os filmes com Penélope Cruz! Boa dica, vou assistir!

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Matinê Baiana

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