"Wandinha": Um sopro de vida que descaracteriza
- Helena Vilaboim

- Nov 25, 2022
- 3 min read
O legado de A Família Addams pode ser traçado para até antes dos anos 60, quando a primeira série de TV foi lançada, e depois a revitalização dos personagens nos anos 90 com os dois filmes. Praticamente criadas e sustentadas pelos próprios personagens, essas narrativas não tinham muito aprofundamento, sendo "cartunizadas" e morbidamente engraçadas.
Majoritariamente dirigida por Tim Burton, "Wandinha" chega ao catálogo da Netflix desafiando essa estrutura já estabelecida há décadas oferecendo conteúdo exclusivo dos personagens em um ambiente totalmente novo. A série conta com 8 episódios de 45 minutos cada, e puxa mais para o terror e mistério do que comédia macabra - Muito embora seja impossível separar a família Addams disso.

A narrativa segue Wandinha, que depois de cometer tentativa de assassinato, é mandada por seus pais para "Nevermore", uma academia para jovens excluídos da sociedade normal. Lá, Wandinha testemunha um assassinato que a compele a ficar na instituição e desvendar o mistério, indo contra autoridades, preconceito e expectativas.
Com essa estrutura serializada, "Wandinha" tem a oportunidade de explorar o passado dos personagens que antes eram mais ou menos unilaterais. É preciso respeitar a equipe de produção de roteiro por ter tomado essa decisão de inovar o folclore dos personagens tão bem conhecido e amados por gerações.

Infelizmente, essa inovação também traz incoerências e tramas que são artificiais quando se trata da caracterização da própria protagonista. É tentando capturar a atenção do público mais adolescente e "popular" que a série tenta com todas as forças empurrar uma trama romântica que não parece ter espaço no arco da série, nem na mitologia da personagem.
Outra coisa que chama atenção é a simplificação da trama do mistério. Somos apresentados à uma protagonista que mentalmente, é uma pessoa extremamente competente, lógica e analítica, mas que quando seguindo as pistas, se confunde e comete erros simples cuja única intenção é mover a trama mais lentamente par frente.
Jenna Ortega é a joia da série. Sua performance como Wandinha Addams é esquisita, apática e super carismática, exatamente como a personagem tem que ser. Normalmente relegada a frases curtas em suas aparições anteriores, aqui suas falas são explicativas e entregues com um tom monótono - exceto em ocasiões especiais onde Ortega exprime emoções e sentimentos de maneira extremamente poderosa.
A única coisa que falta na caracterização da personagem é um foco político que está presente desde a interpretação de Christina Ricci como Wandinha nos anos 90. Ortega tem falas que eludem uma posição política forte, mas nada que chame muita atenção, o que seria um ponto positivo e que casaria bem com a temática dos "excluídos" da escola Nevermore.

Contrastando com a protagonista taciturna e quieta, Enid (Emma Myers) chega para desafiar as convicções de Wandinha sobre amizade e companheirismo, ensinando-a que se importar nem sempre é um sinal de fraqueza. As suas são lados de uma mesma moeda, e a amizade entre as duas é engraçada e emotiva.
O resto do elenco principal conta com personagens menos trabalhados, que servem a um propósito bastante único e que não chamam muita atenção da audiência. Gwendoline Christie como a diretora Weems é a única que realmente tem uma presença mais forte, mas quase unicamente pela performance da atriz.

E claro que quando se trata desse universo, o poder da família Addams está na unificação da família. Suas aparições na série são poucas, mas Mortícia (Catherine Zeta-Jones), Gomez (Luis Guzmán) e Pugsley (Isaac Ordonez) aparecem no piloto e no quinto episódio, oferecendo um estudo do passado dos pais e o relacionamento conturbado pela adolescência de Wandinha. Esse episódio está entre o melhores da temporada.
A direção de Tim Burton é bastante singela, e só chama atenção em alguns shots bastante específicos e estilizados, trabalhando luz e sombra de um jeito evocativo e bonito.
Concluindo, "Wandinha" é uma série divertida e que vale a pena maratonar, mas que se beneficiaria muito em focar na audiência de nicho que cresceu com os filmes e que amam esses personagens do que tentar apelar para uma grande parte dos assinantes da Netflix que exigem narrativas adolescentes e rasas.



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