Crítica:“Top Gun: Maverick"
- Clara Ballena
- May 27, 2022
- 3 min read
Após 36 anos, a continuação de um clássico retoma as telas com um novo olhar ao passado, sendo uma homenagem ao longa que encantou gerações no final da década de 80. “Top Gun: Maverick" foi lançado oficialmente em todos os cinemas do Brasil no dia 26/05/2022 e possui 2h17min de duração.

Retomando a história do corajoso e inconsequente piloto Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise), o então capitão precisa retomar a academia de pilotos “Top Gun” para ensinar um seleto grupo formado pelos melhores para uma missão extremamente complexa. Entre um dos participantes, Maverick encontra Bradley Bradshaw (Miles Teller), filho do seu falecido amigo conhecido como “Goose”.
Escrito a três por Ehren Kruger, Eric Warren Singer e Christopher McQuarrie, o roteiro do longa é uma narrativa clássica que não esconde os principais elementos que o tornam previsível. Nosso herói inconsequente, porém capaz, sempre consegue vencer no final, construindo uma história interessante, que pode encantar o público, porém com uma previsibilidade abatida. Os momentos de maior risco, ao invés de passar um sentimento de tensão para o público, se torna somente mais um passo para nosso herói, invencível e sem erros, vencer.
Isto até poderia “colar” na era de ouro dos filmes americanos, mas atualmente, onde a narrativa moderna entra como um escape a narrativas obsoletas, “Top Gun” é mais um filme da longa lista que mistura: O patriotismo americano, heróis sem defeitos, e máquinas de grande potência, resultando em um sucesso calculado, sem riscos.
Nosso herói, Maverick, divide o papel de protagonista e mentor, o que acarreta em uma problemática gravíssima: Por exercer um papel de mentor / professor / mestre, não há nada a ser aprendido. E se nosso protagonista, perfeito, que nunca erra, não precisa aprender, quem dirá a audiência? Qual mensagem podemos tirar de um protagonista que, mesmo mediante a conflitos, sempre acerta, sem cometer erros?

Sem conflitos externos, o que acaba sendo repassado como conflituoso de nosso protagonista para o público é o sentimento de luto e culpa, que o acompanham desde o final do primeiro filme. Apesar de serem interessantes, esses sentimentos não geram o mínimo de impacto na jornada de Maverick, que apesar de serem provocativos, não servem de base para o conflito geral: A missão final que teoricamente é impossível de ser realizada (mas óbvio que nosso herói, sem errar uma vez, consegue executar essa “missão impossível” onde os inimigos são tão ocultos, que nem ao menos vemos os rostos deles).
Tom Cruise, seguro em seu papel, não mede esforços para retomar a pele de seu personagem, mesmo após tantos anos. Ele exerce o papel solicitado, sem mais nem menos. Para os nostálgicos, sua atuação é um prestígio, mas para os telespectadores novos, se torna tão monótona quanto seus papéis anteriores.
A direção de Joseph Kosinski é inteligente e perspicaz. Acostumado com cenas de ação, ele sabe exatamente como guiar a audiência. Suas escolhas de planos nos coloca à frente do piloto que realiza acrobacias insanas, remetendo a uma montanha russa de emoções orientada pelas mãos experientes do diretor, realizando cenas áreas bem produzidas e verossímeis.

“Top Gun: Maverick" é, mais que tudo, uma homenagem ao primeiro filme. O filme se torna um entretenimento garantido, uma retomada de um prestigiado clássico.
É um blockbuster positivista, agradável para os olhos da audiência e interessante de ser assistido. Porém, é mais um longa da série de patriotismo americano que falha no teste de Bechdel*. O filme não segue riscos, e por não seguir, acaba perdendo o brilho revolucionário dos filmes produzidos no final da década de 80, que a obra insiste tanto em retomar, mas não sabe como reproduzir.
*Teste que pergunta/questiona se uma obra de ficção possui pelo menos duas mulheres que conversam entre si sobre algo que não seja um homem.



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