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"Blonde": O contrato com Hollywood não acaba nem depois da morte?

Daqui a pouco teremos tantos filmes biográficos como temos de super-heróis. A profusão de longas escolhendo grandes ídolos da cultura pop e os apresentando de forma humana e falha pode ser traçada desde "Bohemian Rapsody" (2018), e o mercado acabou por gostar dessa exploração de "nunca conheça seus ídolos". Ainda mais se a fofoca for podre, pelo que parece.

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Levando o conceito a um auge desrespeitoso e nojento, "Blonde", que estreou no dia 28 de Setembro de 2022, é a aposta da Netflix a um lugar nos prêmios cinematográficos que vêm vindo pela frente.


A narrativa, baseada num livro ficcional de mesmo nome mistura eventos factuais e uma narrativa inventada baseada em acusações e fofocas da época ao redor de Marilyn Monroe, e conta com quase 3 horas de duração.


O longa, dirigido e adaptado por Andrew Dominik, almeja alcançar um estado de crítica e paródia ao sistema tóxico de Hollywood e a necessidade da criação de mitologias ao redor de ídolos da cultura pop, mas se valendo da imagem, história e dor de Norma Jeane - nome real de Marilyn Monroe - a obra não passa de uma bela colagem de imagens que chocam por seu visual, mas possui uma mensagem fraca e que se contradiz; acabando por endossar o que ele tenta criticar.


"Blonde" é um filme cruel, desrespeitoso e que transpira à indulgência de um cineasta que sonhou alto demais, mas que não possui o aporte criativo necessário para a criação, tendo priorizado o símbolo ao significado deste.


A narrativa segue Norma Jeane (Ana de Armas), desde sua infância até a criação da persona "Marilyn Monroe" e as situações angustiantes que a fama e sua objetificação pelo estúdio e público; passeando por uma linha narrativa de instabilidade mental e emocional, abuso e negligência.

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Contrária à ideia inicial que esse longa seria construído a partir do ponto de vista de Norma Jeane, a narrativa apresentada ao público é uma que a coloca em posição de vítima em todas as interações com outras personagens.


Os saltos temporais e o uso de efeitos que colocam o público um delírio induzido não permite que a audiência pare e internalize o que está sendo mostrado, o que não seria o objetivo desse longa?


Dominik usa e abusa - em todos os sentidos da palavra - de imagens sexuais desnecessárias, que nada fazem para por o público a par do estado mental de sua protagonista vítima; muito pelo contrário, ele nos coloca de forma obrigatória na mesma posição de seus agressores: observadores desrespeitosos.


Enquanto a narrativa é uma confusão de afrontas a torto e à direito, é inegável que na parte técnica, "Blonde" se sobressai. A direção de Dominik é boa o suficiente para aqueles que não liguem para o total desacato do diretor para com a personagem se satisfaçam com meras construções estéticas bonitas, interessantes e chocantes.

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Por parte do elenco, a escolha de Ana De Armas no papel de Norma Jeane foi extraordinária. A atriz realmente dá tudo de si, e esse longa certamente vai alavancar sua carreira ainda mais, se não lhe arrecadar vários prêmios. De Armas é extremamente expressiva, e conseguiu dominar os maneirismos de Marilyn Monroe e seu jeito de falar quase completamente, tornando a experiência toda em 3 horas desconfortantes e toscas.


Racionalmente, é possível traçar a linha do que Dominik queria que "Blonde" fosse: uma paródia crítica do sistema autofágico que era Hollywood naquela época, talvez uma denúncia da masculinidade tóxica e um elogio à força de uma mulher que mesmo tendo sofrido tanto por causa dela, segue em frente.


Mas aqui está a verdade que Blonde escancara: Hollywood ainda é um campo predatório, não importa se você esteja viva ou morta; a masculinidade tóxica pode ser facilmente mascarada de aliança à conceitos feministas para boa parte da audiência que se contenta em não se aprofundar e essa mulher só continuou por que não tinha pra onde ir.

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A ideia original pode ter sido até respeitável, mas o produto final é um filme desrespeitoso, extremamente indulgente e redundante. Há tantos filmes e documentários sobre Marilyn Monroe... Porque não quebrar o padrão e fazer um que seja gentil à sua memória?






 
 
 

1 Comment


Ludmila Pamponet
Ludmila Pamponet
Oct 01, 2022

Assisti ao filme, após este post. O que não gostei (além de longo demais) foi ela ser retratada como uma mulher fraca e vulnerável, ao meu ver. Eu acredito que, para ter feito tanto sucesso, ela tinha personalidade forte, e em algum momento da Vida, pela experiência adquirida, sabia bem o terreno em que pisava, mesmo iniciando por caminhos tortos. Então, não me convenceu. Atriz maravilhosa.

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Matinê Baiana

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