"Cidade Invisível" 2ª temporada: O mercado pede, eles obedecem
- Helena Vilaboim
- Mar 27, 2023
- 2 min read
Com um histórico cultural enorme, era de se esperar que alguém decidisse explorar o potencial narrativo das lendas e culturas nativas do Brasil. Depois de uma primeira temporada de sucesso em 2021, os criador Carlos Saldanha volta à netflix com uma segunda temporada de 5 episódios de mais ou menos 30 minutos cada no dia 22 de Março de 2023.

A narrativa da segunda temporada começa por acompanhar Luna (Manu Dieguez) e Inês (Alessandra Negrini) na procura por Eric (Marco Pigossi), mais ou menos 2 anos depois do final da primeira temporada. Ao encontrar com Matinta Perê (Letícia Spiller), Luna coloca uma série de acontecimentos em movimento, ligando o grupo a uma quadrilha de garimpeiros ilegais na Amazônia.
A segunda temporada de "Cidade Invisível", se passando agora em grande parte no Pará, explora bem as belezas da floresta e da comunidade ribeirinha. Mas infelizmente, esse cenário fica muito no plano de fundo. O foco dos curtos 5 episódios da temporada está com o trio que passeia por esses locais sem realmente fazer parte deles, o que pode causar certa estranheza aos espectadores que estavam esperando uma diversidade mais significativa.
Mas é impossível condenar essa tentativa por completo, comparando as duas temporadas nessa área. Na segunda, temos Zahy Tenterhar e Kay Sara como "Débora" e "Telma", duas figuras que tem poder na narrativa. Ao final da temporada, fica implícito que as duas retornem para uma possível continuação, talvez em posições mais importantes para a trama.

A segunda temporada também continua introduzindo personagens importantes para o folclore indígena e brasileiro, mas por falta de tempo e espaço na narrativa, muitos deles são apresentados sem muita explicação e o espectador curioso é obrigado a recorrer à internet.
De performances, a maioria do elenco ainda pesa muito para a performance teatral, e o roteiro não ajuda em utilizar sutilezas da língua portuguesa para deixar as cenas mais naturais. Pelo contrário, muitas falas são tão certinhas - e tão fora de contexto - , que fica a sensação que isso foi feito para ajudar o trabalho dos dubladores e legendadores estrangeiros.

Do núcleo, Marco Pigossi se destaca, com uma performance mais cinematográfica e sutil, ainda que forte e desesperada. Infelizmente seu personagem, Eric, não se desenvolve tanto assim, e ele vai de um lugar a outro, com um objetivo pessoal teimoso, mas que não vai de encontro com o personagem.
Concluindo, a segunda temporada de "Cidade Invisível" foi mais fraca e mais corrida do que a primeira, mas a série deu um passo interessante e que já estava sendo pedido há um tempo rumo à diversidade que a essência dela pede. Esses cinco episódios inauguram um novo ambiente e novos personagens que podem vir a ser importantíssimos. O mistério ainda é se o espectador mais imediatista vai ter paciência para esperar o que pode vir.
Numa era em que audiência é o único fator que mantém os seriados sendo produzidos, "Cidade Invisível" pode estar correndo certo risco de cancelamento.
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