Crítica: "Inventando Anna" - Minissérie
- Clara Ballena
- Feb 21, 2022
- 3 min read
“Tudo o que é contado aqui aconteceu de fato, exceto pelas coisas que foram inventadas”. É assim que a minissérie televisiva da Netflix “Inventando Anna” (Inventing Anna) inicia todos os seus 9 episódios com duração de 1h. Produzida pela “Shondaland”, produtora criada por Shonda Rhimes, escritora e criadora de séries famosas como “Grey’s Anatomy”; "Scandal" e a mais recente pelo mesmo streaming “Bridgerton”, constrói uma boa narrativa carregada de personagens intrigantes, sendo mais uma vez um excelente acerto da veterana, que assina o projeto como criadora.

A série conta a história da emblemática Anna Delvey (Julia Garner), uma garota de 25 anos que conseguiu enganar a elite e autoridades de Nova York, vivendo uma vida glamorosa através de seus golpes. Baseado em fatos reais, acompanhamos a narrativa através da jornalista Vivian (Anna Chlumsky) que decide acompanhar o caso e escrever a história de Anna no processo de julgamento.
Intercalando duas linhas temporais, somos divididos a viver momentos essenciais da vida de Anna através da perspectiva dos personagens que participaram dessa conjuntura que marca a ascensão e queda da golpista. Cada episódio traz um personagem dessa narrativa em destaque, trazendo Vivian em um protagonismo investigativo em que ajuda o telespectador a alinhar os acontecimentos da história, enquanto também vemos a personagem passar por suas próprias dificuldades, como seu passado que ainda a tormenta e a gravidez enquanto escreve sobre a vida de Anna.

Anna Delvey (Julia Garner) e Vivian (Anna Chlumsky)
Apesar de ser o título da série, pode-se dizer que Anna não é a protagonista. Sim, ela é o tema e somos motivados a acompanhar a história unicamente pela curiosidade gerada pelo seu caso. Mas assim como na vida real, a personagem se torna muito mais uma entidade, um tema que todos estão comentando. Somos guiados, assim como os personagens, a se encantar por essa personalidade que a cada revelação se torna uma incógnita.
Anna não é carismática, nem ao menos apresenta momentos de empatia. E quando há momentos como esse, tanto o telespectador como os personagens ficam na dúvida: O que é real e o que é inventado pela personagem? Pois assim como os participantes da narrativa, a série nos coloca na mesma posição, Somos enganados e passamos a sentir o mesmo que os personagens e a realizar as mesmas perguntas: Porque estamos nos simpatizando? O que torna ela especial?
Tendo um tema secundário o foco em personagens que participaram da vida de Anna, seja como aliados ou afetados pelo seu golpe, a série em alguns momentos acaba sendo entediante pela duração do episódio e pelo destaque exagerado em um personagem que não cativa. Do outro lado, temos personagens bem trabalhados e interessantes, que quando a série os coloca em destaque em paralelo com as empreitadas de Anna, tornam o episódio dinâmico e atrativo.
A atuação de Julia Garner como Anna é fenomenal. A atriz modifica naturalmente a personalidade ambígua e antipática da personagem, sendo uma excelente atuação do começo ao fim que demarca mais uma vez a trajetória brilhante que a atriz vem criando nos últimos anos.

Julia Garner (esquerda) / Anna Delvey (direita)
Anna Chlumsky não fica de lado, sua atuação condiz com a personagem, mas por carregar o protagonismo e por sua personagem não ser tão cativante como a entidade “Anna”, alguns momentos são fracos ou perdidos em dilemas que até poderiam ser interessantes, mas que se apagam pela vida cativante e intrigante da sua parceira de cena.
Tod, (Arian Moayed) advogado de Anna, passa pela mesma problemática da personagem “Vivian”, mas não é tão afetado quando a mesma por ser mais um aliado do que protagonista, conseguindo ter sua narrativa escrita de maneira mais objetiva e sem muito destaque além de conseguir exercer o seu papel de advogado da melhor forma.
Outras personagens do núcleo passado chamam a atenção pelas personagens e atrizes que conseguem retratar com veemência a lealdade e sofrimento pelo dilema em entender Anna, são elas: Rachel (Katie Lowes); Kacy (Laverne Cox) e Neff (Alexis Floyd).

Kacy(Laverne Cox)/Rachel(Katie Lowes)/Anna Delvey(Julia Garner)/Neff(Alexis Floyd)
A série apesar de ser baseada em fatos reais, não deixa de ter a mão de Shonda Rhimes, aplicando como sempre personagens femininas plurais e fortes, carregadas de uma boa construção que não se apega apenas ao eu feminino, uma especialidade da criadora já muito bem vista em suas outras produções.
“Inventando Anna” é uma minissérie extensa de se acompanhar, em que alguns episódios podem exigir da atenção do telespectador mais que outros para se chegar a uma empolgante conclusão final. Carregada de uma narrativa interessante e boas personagens, fica difícil não terminar a série e esquecer da golpista emblemática que nos deixa intrigados e se torna um enigma maravilhoso de ler.
Pss: É citado nos últimos episódios um instagram criado com os Looks de Anna na época do seu julgamento, o instagram existe e está ativo até hoje:
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