Crítica - Eternos: Uma odisseia épica
- Clara Ballena
- Nov 3, 2021
- 5 min read
Com a Marvel expandindo cada vez mais o seu universo, “Eternos”, mais novo filme da Marvel que estreia no dia 4 de novembro em todos os cinemas, abre portas não só para uma nova narrativa, como também, uma nova maneira de contar suas histórias.

Assistir a um filme é uma experiência única, especial. Opiniões divergem, a humanidade não possui os mesmos gostos, e nem deveria, já que a pluralidade nos garante uma gama de conteúdos a serem explorados. Não existe um filme que irá agradar a todos, mas o ofício da crítica é, mesmo a partir de sua perspectiva, analisar a obra como um todo. Eternos, mesmo com defeitos, está longe de ser uma obra que merece estar sendo tão mal avaliada.
O filme está sendo julgado justamente pela sua diversidade e quebra de barreiras, o que comprova que, apesar de estarmos atingindo e conquistando espaços a muito tempo negados, infelizmente, a podridão machista e homofóbica pulsa e vive no universo crítico e cinematográfico. Com isso, adianto que o filme impacta positivamente, sendo um acerto da Marvel. Se você é daqueles que só assiste a algo com avaliações positivas, sugiro primeiramente ver o filme, para depois abranger sua opinião em relação à obra.
Sinalizando todos esses pontos, vamos para o que interessa: “Eternos” conta a história de seres criados por “Celestiais” para combater os “Deviantes”, criaturas animalescas que aterrorizam o planeta terra há milhares de anos. Os Eternos, como chamados, formam um grupo de dez seres com superpoderes que vivem no planeta terra há milênios, e passam a conviver ao redor dos humanos e acompanhando a história da humanidade, mas sem a possibilidade de interferir com ela, a menos que os “Deviantes” estejam envolvidas.
Acreditando ter eliminado toda a espécie, o grupo formado por Ikaris (Richard Madden), Ajak (Salma Hayek), Thena (Angelina Jolie), Sersi (Gemma Chan), Gilgamesh (Ma Dong-seok), Kingo (Kumail Nanjiani), Sprite (Lia McHugh), Makkari (Lauren Ridloff), Phastos (Brian Tyree Henry) e Druig (Barry Keoghan) se distancia, passando a trilhar seus próprios caminhos. Quando a ameaça dos Deviantes ressurge nos tempos modernos, dessa vez mais inteligente e mortal, o grupo deve se reunir para combater o inimigo mais uma vez, antes que seja tarde demais para a humanidade.

Com um elenco de peso formado por astros de Hollywood, sendo comandado pela recente ganhadora do Oscar, Chloé Zhao, o filme apresenta seus personagens sem pressa. Com duração de 2h45min, sendo o segundo filme mais longo das franquias Marvel, há momentos em que a trama possa parecer longa demais, mas cada momento acaba sendo bem aproveitado para construir seus personagens e aprimorar seus laços afetivos. Aqui, o problema não se dá pela duração das cenas, e sim na dificuldade de entrelaçar momentos históricos diferentes.
O filme não segue somente uma linha temporal, ele vai e volta para diferentes momentos da história dos Eternos, ajudando o público a entender um pouco mais do seu passado, e certas atitudes feitas no presente. Apesar da importância desses momentos, a rapidez com que essas transições entre passado e presente ocorrem gera justamente a sensação de falta de linearidade na trama. Isso é algo que não fui afetada pessoalmente, conseguindo manter o fluxo narrativo ao longo do filme sem grandes dificuldades. Mas, para olhares acostumados a uma narrativa linear, podem afetar a experiência.
O filme é diferente de tudo o que já vimos das produções cinematográficas da Marvel. O desafio da produção foi enorme, afinal, como contar a história de dez personagens jamais vistos (diferente dos Vingadores, onde os heróis já haviam sido apresentados em outros filmes), os desenvolver, fazer o público se apegar a eles, e paralelamente, apresentar esse novo universo nunca visto? Criando uma história com começo, meio e fim?
Apesar da dificuldade de transitar em diferentes linhas temporais, e da utilização de diálogos explicativos para chegar ao ponto necessário para os acontecimentos fluírem, trazendo em certos momentos falas mais explicativas que funcionais, o filme é uma obra linda, emocionante, e espetacular.
“Eternos” encanta ao trazer uma história familiar, abraçando seus personagens e os tornando humanos, mesmo eles sendo seres poderosos criados por um Celestial. O centro da narrativa se dá nessa jornada familiar, mas cada personagem consegue se destacar e manter sua narrativa única, sua personalidade singular. Esta, que é garantida pelas excelentes atuações e bom desenvolvimento dos personagens no roteiro.
Apesar de cada personagem ter sua particularidade, tanto em relação a seus poderes como personalidade, alguns acabam tendo mais destaque ao longo da trama que outros, fazendo com que a narrativa presente seja guiada pela personagem Sersi. Mesmo assim, inúmeros personagens conseguem se destacar, mesmo com um tempo de tela mais curto que outros. A representatividade é um fator louvável, criando uma atmosfera plural e especial ao filme, como a inserção de atores e atrizes de diferentes etnias, adicionando pela primeira vez um super heroi homossexual e uma super heroína surda que se comunica através de libras.
Não espere um conteúdo apenas com piadas para acrescentar personalidade aos personagens. Aqui, eles conseguem ser representados humanamente, criando uma simpatia ao telespectador ao longo da jornada. Prepare-se para ver eles amando, sofrendo, lidando com dilemas humanos. Verá eles também se adequando a tecnologias, fazendo referências a cultura Geek e Pop, assim como tendo conflitos e discórdias. Demonstrando ser frágeis, e ao mesmo tempo heróis.

A direção de Chloe expande com uma cinematografia linda e planos de tirar o fôlego. O uso de luz natural, cenários recriados sem a ajuda de tela verde, trazem mais aspectos humanísticos à trama, garantindo cenas que se tornam verdadeiras obras de arte. Chloe também demonstra uma excelente versatilidade ao dirigir cenas de ação, além da sabedoria em utilizar os efeitos especiais necessários para encantar e aprimorar seus planos, em um constante e harmônico equilíbrio verdadeiramente magnífico.
A trilha composta por Ramin Djawadi, conhecido por seus trabalhos em “Game of Thrones” e “Westwolrd”, acrescenta mais brilho à jornada épica dos nossos heróis. Tendo composições originais a músicas da cultura pop, elas são mescladas naturalmente a narrativa, equilibradas sonoramente.
A mitologia dos seres Eternos é algo visualmente prazeroso de se assistir. Os seres criados no universo são únicos, desde os figurinos dos nossos heróis, seus poderes, seus deuses e inimigos. Cada detalhe é muito bem feito e trabalhado, formando figuras únicas e especiais para o filme.

A obra se torna então, um conjunto narrativo carregado de poesia, relações e dilemas pessoais internos e externos que os protagonistas enfrentam. O filme finaliza sua narrativa abrindo portas para o futuro, este, tão grande quanto o apresentado até então. Ele contém duas cenas pós-créditos, sendo importante ficar até o final do filme para conseguir assistir as duas cenas.
“Eternos” é uma experiência única. Singular no seu diferencial, e plural em seu elenco e enredo. Não é o filme perfeito, mas é o que se arrisca e consegue, mesmo com seus pequenos defeitos, a conduzir e criar uma memorável e emocional história, que ficará marcada no universo Marvel.
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