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Crítica: “Pobres Criaturas"

Updated: Feb 5, 2024

“Pobres Criaturas” (Poor Things) finalmente chegou aos cinemas brasileiros no primeiro dia de fevereiro de 2024. O longa, aguardando ansiosamente pelo público, abraça o surrealismo e nos demonstra uma jornada de autoconhecimento feminino, comandada por Bella Baxter (Emma Stone) em uma trajetória alucinante e emocionante. 


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Poster do filme

A narrativa, sendo uma releitura da obra de “Frankenstein” escrita por Mary Shelley, reescreve o surgimento de uma figura monstruosa a partir do ponto de vista feminino, onde Bella, uma mulher adulta, é trazida de volta a vida pelo cientista Godwin Baxter (Willem Dafoe). Em processo de crescimento, devido a mentalidade infantil após ser trazida de volta a vida, exploramos o raciocínio da pureza feminina, da liberdade sexual, até as cobranças sociais impostas às mulheres e o sofrimento eterno de se entender como mulher em uma sociedade machista. 

 

O filme elabora uma espécie de ensaio irônico, dando humor equilibrado à trama. A falta de sutileza é exagerada, tudo é grande ou pequeno demais, colorido ou preto e branco, demarcado por um surrealismo que somente Yorgos Lanthimos, diretor da obra, é capaz de nos presentear. Ele faz uso de um design de produção exuberante para criar cenários que conferem tons de fantasia a lugares reais, como Londres e Lisboa, enquanto a fotografia transita do preto e branco para cores vibrantes à medida que Bella explora mais o mundo.


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Emma Stone como Bella Baxter

Essas escolhas visuais são impactantes, e combinadas com o enredo que relata a libertação de Bella da sociedade polida, estabelecem o tom transgressor da história. Embora o ambiente possa se assemelhar ao mundo real, a estilização é pronunciada, praticamente gritante e absurda, abordando a temática da sexualidade feminina essa especialmente explorada a partir da tomada de consciência da mulher em relação ao seu papel no mundo. Um papel predestinado desde tempos passados, mesmo antes de ela ser capaz de compreendê-lo completamente.


O roteiro de Tony McNamara anda de mãos dadas com a “esquisitice” mirabolante de Yorgos, e me impressiona como o roteiro e direção masculina tenha sido tão cuidadoso e honesto com o feminino, e o peso que ele carrega no círculo audiovisual. 


O longa de 2h21min é contado a partir de uma atmosfera de estranheza e desconforto, ao mesmo tempo que abraça uma simplicidade sutil, ao encarar temáticas modernas em um universo caracterizado em sua mise-en-scène próximo a era vitoriana. Mas,  isso não é novidade para quem acompanha a carreira do diretor, que manteve como estilo essas características, presentes em outras de suas obras, como "A Favorita" (2018) e "O Lagosta" (2015). 


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O elenco não só abraça toda a estranheza, como também se doam para seus respectivos papéis. Mark Ruffalo rouba a cena com um carisma cômico interpretando o personagem Duncan Wedderburn, um típico rico sórdido que se aproveita da inocência de Bella para levá-la para conhecer o mundo. Já Willem Dafoe, no papel de cientista maluco, carrega o fardo da violência parental, e consequentemente, acreditando que o seu é o único e melhor caminho a se seguir, traz camadas além da deformidade do rosto do seu personagem. 


Mas o maior destaque de todos é de Emma Stone. É inegável sua força e construção de personagem, que perpassa por um crescimento vivido nas telas. Sua linguagem corporal, vocalização e expressões são desenvolvidas maravilhosamente bem, com naturalidade e ao mesmo tempo com peculiaridade. Conseguimos ver sua desenvoltura, não só pelo crescimento do cabelo jamais cortado da protagonista, como no amadurecimento dela, que é desenvolvido a partir de uma simplicidade orgânica. 


Pobres Criaturas” é uma deslumbrante jornada da heroína. Uma obra que encanta e espanta com equilíbrio, que não tem medo de ser cômico, nem de pautar temáticas mais sombrias. Indicado à 10 categorias do Oscar 2024, não me surpreenderá caso ele leve algumas estatuetas nas principais categorias da premiação. 


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Matinê Baiana

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