Crítica: "Wonka"
- Clara Ballena
- Dec 7, 2023
- 3 min read
Updated: Dec 8, 2023
A rotina do dia a dia tende a matar sonhos. Não falo aqui dos sonhos como a experiência mental ao adormecer, mas sim daquela de se imaginar em um outro local, um ainda inalcançável. Afinal, quem nunca sonhou acordado e acreditou que sonhos se realizam? Após o ano de 2023, com tantos desafios e desgastes, é um alívio poder sentar por 1h56min e assistir a uma obra que abraça sonhos, expectativas e desejos de uma forma magnífica.
Baseado na obra de Roald Dahl, a história já teve adaptações produzidas em 1971 e 2005. Mas não se preocupem, aqui, a narrativa deixa de ser um reboot e passa a nos introduzir ao jovem Wonka (Timothée Chalamet) que, após a morte de sua mãe, decide realizar o sonho de abrir uma loja de chocolates em uma área nobre e competitiva, cheia de grandes empreendedores que não aceitam o chocolate criado por Wonka: Com diferentes sabores, criatividade e claro, magia.
A direção é de Paul King, com roteiro escrito por ele em parceria com Simon Farnaby, e você já pode conferir o filme no dia 7 de Dezembro em todos os cinemas brasileiros.
Confesso que estava com saudade de entrar em um mundo fantasioso bem produzido, onde as cores lembram os tempos da origem do Tecnicolor e a suavidade musical adentra à trama sem exageros, mas também sem perder o seu gênero musical. (Se você acredita que o filme não é um musical, sinto em lhe desapontar… Ou não. Até mesmo porque todas as adaptações da obra foram musicais, o que torna incompreensível o choque de muitos na internet a respeito disso.)
Surpreendentemente, e digo isso pela amargura e sinceridade de não ter ido ao cinema acreditando no filme, o musical funciona como uma fantasia magnífica. A narrativa clássica está empregada aqui em sua melhor forma, garantindo uma trama conhecida, mas que não se perde em clichês. Em uma corda bamba, que a todo o instante corre risco de se tornar caricato demais, ou com pouca magia, o filme consegue compor, sem perder o equilíbrio, todos os elementos essenciais de uma boa trama: Um personagem carismático com defeitos e qualidades, acompanhado de um grupo de amigos tão carismáticos quanto, que lutam e sonham por um objetivo em comum e, ainda assim, sem perder sua individualidade ou algo que os caracterize como únicos.
Acredito que a melhor palavra para resumir o longa, sendo até mesmo redundante, é “Equlíbrio”. Atuações, direção de arte, números musicais… tudo, e quando digo que “tudo” me surpreende, abrange, inclusive, a harmonia com a qual todos os setores funcionam e entregam o trabalho no ponto necessário. Obviamente, nada extraordinário ou fora do comum: As cenas musicais não são marcantes, mas têm seu propósito narrativo e conseguem, entre uma melodia e outra, emocionar o público em um refrão.
As atuações beiram o caricato necessário, mas sem extrapolar. Adiciono aqui dois destaques que me surpreenderam: Olivia Colman encarando o desafio de interpretar uma reencarnação moderna de uma mistura de bruxa má com madrasta chamada Mrs. Scrubbit, a vilanesca dona de uma pousada; e todos os louvores ao protagonista Wonka interpretado por Timothée Chalamet. Com esse filme, compreendo (um pouco) o fascínio de Hollywood por ele, principalmente pelo ator entregar sem dificuldades coreografias elaboradas, juntamente com uma voz afinada e, surpreendentemente, construindo um personagem carismático, humano, com leves traços da loucura que tornam o personagem único.
Sendo um excelente filme natalino, sem a temática festiva do fim do ano, Wonka é um filme familiar para todas as gerações. É um brilho sonhador e cativante, e talvez até mesmo essencial para aqueles que, assim como eu, haviam deixado de sonhar.
Comments