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"Duna" - 1984: Uma Versão Problemática?

Updated: Oct 21, 2021

“Duna” (Dune), 1984, é um filme de ficção científica dirigido por David Lynch - Que também assina o roteiro junto com Frank Hebert-, e está disponível nas plataformas Prime Video, Netflix, Telecine, Star TV e Starz. O longa conta com 2 horas e 20 minutos de duração, e foi baseado em um livro escrito por Frank Hebert, na década de 1960.

Kyle MacLachan como "Paul"

A narrativa conta a trajetória de Paul Atraides (Kyle MacLachan), desde filho da Lady Jessica (Francesca Annis) e do Duque Leto (Jürgen Prochno), que controla grande parte do “universo econômico”, á heroi e vingador da morte de seu pai, alcançando a posição de Imperador do universo conhecido.


Assisti “Duna” em preparação para sua versão mais recente, dirigida por Denis Villanueve, e me senti extremamente confusa com a versão de Lynch. Por ter assistido á outros projetos dele, embarcar numa jornada que eu julgava ser ainda mais psicodélica do que a anterior pareceu interessante, e nesse ponto, essa versão não decepcionou.


No entanto, a confusão foi demais para que curtir a história sendo contada, e muitas partes do filme causam desorientação, devido a saltos temporais não destacados, conceitos que não são explicados e algumas escolhas de storytelling que mais incomodam que servem ao seu propósito.


Por ser um filme de 1984, e a versão mais recente estar prestes a estrear nos cinemas brasileiros, me sinto no direito de comentar sobre algumas coisas específicas no filme, e vou dar spoilers. Caso você ainda não tenha visto ao filme e tenha interesse em assistir essa versão, recomendo que a leitura termine aqui. Mas volta depois, viu?


Conhecido por suas adaptações fora da caixa, David Lynch não está na mesma linha dos diretores mais convencionais. Pelo que pude perceber de suas abordagens, Lynch procura causar mais uma resposta emocional do que lógica de sua audiência, e ele certamente consegue alcançar isso com “Duna”.


Duna” traz uma narrativa de vingança que beira as tragédias Shakespearianas, e talvez por isso, o diretor teve mais liberdade para explorar a história de uma perspectiva mais sensorial. Contudo, quando é uma história que não se passa na nossa sociedade - Embora se assemelha á nossa - e apresenta conceitos desconhecidos para a maioria de nós, a linha narrativa lógica fica quebrada, e fica a cargo do espectador dar sentido á muita coisa.

Do ponto de vista narrativo, duas coisas chamaram a atenção. Primeira: O papel de homens e mulheres na sociedade de Duna se assemelha bastante com nossas sociedades passadas, como se fosse um “copia e cola” do período quase medieval, só que no espaço. O que releva a posição das mulheres de vítimas á antagonistas, á meros interesses românticos. Não imagino isso acontecendo na versão atual, depois de 37 anos de um discurso mais igualitário.


A segunda foi a escolha de performance de Kenneth MacMillan, no papel de Barão Harkonnen. Longe de ser a performance mais fraca no filme, o ator se valeu de trejeitos e deixas mais afeminadas, e que davam a impressão - bastante clara - de que o personagem era gay. Há um contraste muito forte entre a cena de apresentação do Barão, que é mostrado num processo “estético”, e o herói da trama, Paul, que é mostrado estudando, e logo depois em um combate de treinamento.


"Barão Harkonnen"

A escolha de aparência do Barão também pode ser vista como prejudicial, já que ele aparenta ser um homem fisicamente doente, com feridas no rosto, isso filmado em plena epidemia da antiga AIDS nos anos 80 e 90. Isso, junto com as atitudes extremamente maléficas do Barão, podem ser vistas como atitudes prejudiciais por parte dos roteiristas e diretor.


Acentuando isso ainda mais, “Duna” conta com um discurso religioso bastante presente em algumas cenas, reforçando a ideia de que o herói, Paul Atreides, é a encarnação de tudo que é valoroso e certo. Então embora a história se passe num futuro em que a sociedade humana tenha “evoluído”, a base de seus valores está muito bem fincada em ideias prejudiciais á parte da sociedade e é sutilmente preconceituosa.


Outra coisa que chama atenção é a falta de pessoas que não sejam brancas no elenco, que é vasto. Isso demonstra uma escolha bastante deliberada.


Em conclusão, “Duna” é um longa que beira o maçante, com ritmo lento, e narrativa desfocada, que pode agradar os que gostam mais de uma experiência sensorial, sem muita crítica do que está sendo mostrado e como está sendo mostrado. O filme envelheceu mal.



 
 
 

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Matinê Baiana

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