top of page

"Que Horas Ela Volta?": Dos Desafios da Maternidade às Diferenças de Classe

As vezes, a simplicidade de algo é o que nos faz abrir os olhos para o significado por trás daquilo. Não é necessário um sinal neon ou fogos de artifício. Muitas vezes, menos é mais para mostrar o que está bem ali: na frente de nossos olhos.


Foi certamente trabalhando em cima dessa perspectiva que Anna Muylaert desenvolveu "Que Horas Ela Volta?" em 2015, um longa que trata de maternidade, da migração do nordeste para o sudeste do Brasil, da divisão de classes e da quebra - ou não - de regras absurdas.

ree
Regina Casé como "Val"

A narrativa segue Val (Regina Casé), uma empregada doméstica Pernambucana que trabalha na mesma casa há 10 anos, cuidando da casa e do filho de um casal de classe alta em São Paulo. Quando Jéssica (Camila Márdila), sua filha de 17 anos, chega para prestar vestibular e fica na casa, o equilíbrio entre "patrão e empregado" é desafiado e um drama familiar se desenrola.


Com o enredo simples, mas poderoso, Muylaert traça um retrato de uma situação que já vem se firmando há muito tempo no território brasileiro. Sem explicar muito, já que há pouca necessidade, ela mergulha no dia a dia de Val morando com a família, que depende dela para tudo, mas a desconsidera.

ree

E é realmente nisso que a diretora e roteirista foca em "Que Horas Ela Volta?", na dinâmica entre os personagens que são bem exploradas, com diálogos bem escritos e cenas bem feitas, os espectadores ficam agoniados com a situação.


O interessante é que numa subversão mais que justa, quem ganha camadas e profundidade no longa são a Val e Jéssica, dispondo de mais espaço para crescer na narrativa do que no "mundo real".


A presença de Jéssica inclusive começa como antagônica para Val. De início ela desconsidera as regras da casa, ameaçando o trabalho da mãe, mas encantando o patriarca da família, Carlos (Lourenço Mutarelli), e seu filho, Fabinho (Michel Joelsas). A partir daí, portas se abrem e Jéssica usa as oportunidades que lhe são oferecidas. É nesse ponto que o tema de "Que Horas Ela Volta" é exposto: A audiência começa a se perguntar "E porque ela não deveria usar essas oportunidades?"

ree
"Jéssica" e "Val"

Enquanto isso, o coração do longa é exposto pela relação entre mãe e filha. É o sacrifício da maternidade, a tragédia que Val enfrentou até aquele ponto de precisar se afastar da filha para que pudesse ganhar o suficiente para criá-la. O sacrifício de ficar no ambiente que é opressor - mesmo que ela não perceba tanto como Jéssica - para continuar mandando dinheiro para casa. O desfecho dessa trama é satisfatório e bem feito, seguindo o padrão de quebra de ciclos que o filme propõe.


As performances são maravilhosas, e aqui as mulheres do longa roubam a cena todas as vezes. No papel arquétipo da "mulher nojenta", Karina Teles interpreta Bárbara, cuja presença é essencial para montar o palco social do filme, e a atriz é bastante competente em seu papel.


Na direção, Muylaert faz questão de trazer shots apertados, cenas filmadas entre portas e janelas, transmitindo uma sensação de enclausuramento e despertencimento intenso, que é facilmente passada para os espectadores.

ree

Em conclusão "Que Horas Ela Volta" é um retrato do brasil tanto na época em que foi filmado quanto em 2023. É necessário e é hábil em desafiar o que pode ser corriqueiro em nossas vidas, e olhar mais de perto. O filme está disponível no catálogo da Netflix e conta com 1 hora e 52 minutos de duração.

 
 
 

Comments


Matinê Baiana

Receba nossa Newsletter semanal!

Obrigada!

©2021 by Matinê Baiana. Proudly created with Wix.com

bottom of page