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Review: "Saltburn"

O mundo dos bilionários é algo desconhecido para a maioria da população, ainda mais se for uma herança familiar centenária. Em produções cinematográficas, esse desconhecido do “1% do 1%” pode ser explorado livremente, oferecendo um vislumbre da bolha da qual muitos querem fazer parte. Parece que se com grande poder vêm grandes responsabilidades, com grande soma de dinheiro vêm grandes irresponsabilidades e sobrevivência do mais forte.

 

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Saltburn”, é um longa de 1 hora e 31 minutos dirigido por Emerald Fenell, que trata desse tema, apresentando Oliver Quick (Barry Keoghan), um jovem universitário de Oxford, na Inglaterra, que entra em contato com Felix Catton (Jacob Elordi), um jovem herdeiro que também frequenta a universidade e a partir dessa amizade, conhece o mundo desconhecido dos “podres de ricos” a partir de experiências na propriedade da família, intitulada “Saltburn”, e aos poucos sua admiração e desejo passa a ser obsessão doentia, indo a extremos chocantes.


O roteiro, também produzido por Emerald Fennell, parece tirar muita inspiração de filmes como “Parasita” (2019) e “O Talentoso Mr. Ripley” (1999), em que um estranho, vindo de uma classe econômica diferente, se insere no mundo dos ricaços para benefício próprio. Mas em “Saltburn”, a trama se intensifica e complica ao adicionar elementos não só obsessivos, mas também românticos e eróticos, de uma maneira exagerada e até violenta. 


Saltburn” não é um filme sutil. Na verdade, a diretora parece fugir das sutilezas com um propósito muito específico: diferenciar seu projeto dos outros pelo choque trazido pelo erótico peculiar que por vezes beira o escatológico que o filme explora. 


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O filme é sem dúvidas uma história que toca bastante no tema de luta de classes, e o tema de justiça social que vemos em seu projeto anterior, “Bela Vingança” (2020), mas ele também explora o caminho da sucumbição à ele ao mostrar Oliver tentando fazer parte, e depois dominar aquele mundo que não lhe pertence.


O filme é contado a partir de um ponto de vista do que parece ser um interrogatório no presente, em que Oliver reconta os eventos de sua estadia em Saltburn, em 2007. Logo na introdução, o texto mostra à audiência que Oliver não é um narrador confiável e embora ele saliente que não havia sentimentos românticos entre ele e Felix, o jeito com que ele descreve o amigo revela muito mais.


A direção de Emerald Fennell é exótica, excludente e misteriosa por vezes, mas ao mesmo tempo é quente, viva e divertida, preparando o cenário para um filme que poderia ir muito bem, caso Oliver não se sentisse constantemente humilhado ao não pertencer àquele mundo e decidisse fazer algo a respeito, porque não é suficiente frequentar Saltburn, é preciso herdá-lo. 


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Jacob Elordi como "Felix Catton"

No papel de Felix, Jacob Elordi exala carisma e charme de um típico herdeiro que está tendo uma experiência de “gente comum” durante os anos de faculdade. Ele se importa com Oliver, e se mostra simpático para com as dificuldades financeiras e sociais do amigo. Mas é em Saltburn que notamos que não importa quão bem intencionado Felix pode ser ou parecer, ele e a família vão ser sempre um grupo à parte da realidade do resto do mundo. As regras reais não existem em Saltburn, eis onde mora a crueldade. 


O resto da família, constituída por Lady Elspeth (Rosamund Pike), Lord James (Richard E. Grant), Venetia (Alison Oliver) e Farleigh (Archie Madekwe), é tão desconectada da realidade que, em parte, a comédia o filme deriva de seus comentários. Mas é um humor que não tem muita graça, que parte do absurdo tão extremo que causa desconforto, a tentativa e vão de manter a ordem mesmo quando a tragédia acontece.


Nenhum membro da família escapa do estereótipo, e apesar das performances dos atores serem a única coisa que lhes dá corpo, e um aspecto que parece ter sido pensado e construído pela produção. 


Percebendo uma família que não tem “predadores naturais”, Oliver encontra um jeito de entrar nas boas graças do grupo, sempre bancando o coitado, o que é um truque de mestre, mas lhe custa caro em termos de orgulho. É então quando a manipulação de Oliver entra em declínio que a admiração e o desejo de fazer parte de Saltburn vira em um desejo destrutivo de possessão. 


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Barry Keoghan faz o papel tremendamente bem. Seu personagem é mestre em usar de artifícios de manipulação para se passar despercebido por onde os outros não o enxergam e tece a teia por Saltburn, trazendo a decadência da família Catton de dentro para fora. Ele também protagoniza algumas das cenas mais excêntricas do longa, que certamente causarão certo desconforto ao espectador desavisado. 



Salburn” tem falhas, e não é um filme que deve ser assistido quando o espectador está procurando por algo leve e divertido, mas é um dos melhores projetos desse elenco e talvez esse seja o melhor modo de assistir ao filme: com o objetivo de apreciar um projeto em que cada cena é uma aula de atuação.   

 
 
 

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Matinê Baiana

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