"Suspiria" - Se você acha que um filme antigo não assusta, pensou errado

Muita gente considera os filmes de terror antigos bobos ou até engraçados, incapazes de chegar à tensão e apreensão que os filmes atuais trazem, mas entre esses que são realmente mais levinhos, alguns conseguem gelar a espinha do espectador até os dias de hoje ou, no caso de "Suspiria", exatos 46 anos depois de sua estreia.

Jessica Harper como "Suzy"

Lançado em 1977, escrito e dirigido por Dario Argento, o longa de 1 hora e 40 minutos é um ícone do terror psicológico muito antes da popularidade do subgênero ter bombabdo. "Suspiria" está disponível na plaforma Prime Video no Brasil.

A narrativa do filme segue Suzy Bannion (Jessica Harper), uma bailarina americana que chega na Alemanha para estudar numa escola renomada do país. Ao chegar na escola, uma das dançarinas é assassinada na floresta que rodeia a escola, e outras coisas começam a acontecer. Depois de tantas estranhezas, Suzie começa a suspeitar de uma seita satânica dentro da escola.

Com uma narrativa relativamente simples, "Suspiria" tem seu maior trunfo nos aspectos "sensoriais" do filme, com a direção, construção de cenário, iluminação e trilha sonora sendo os carros chefes do projeto. A identidade visual do filme, com seus shots panorâmicos e contemplativos e iluminação vermelha fazem o filme ser reconhecido muito facilmente.

A construção dos cenários interiores, juntamente com a trilha que lembra muito caixinhas de música, criam uma ambiente propício para a crença em mágica, um lugar misterioso e possivelmente perigoso, e claro, muito psicodélico.

Outro aspecto que não deixa que "Suspiria" fique muito atrás dos filmes de terror atuais são as três mortes que acontecem em cena. As três apresentam um alto grau de gore, algo ainda pouco visto e explorado na época, e embora as cenas preservem sim a identidade do assassino, os cadáveres são extremamente expostos para a câmera, causando calafrios a despeito do sangue muito estilizado e pouco realista.

Ainda que compondo relativamente bem aquele mundo ficcional que é basicamente restrito à escola de dança, muitos dos personagens não são muito bem desenvolvidos, apresentados à audiência apenas na superfície do estereótipo. Um erro grave, esse aspecto ainda se extende à protagonista, que por uma parte relativamente grande do filme se apresenta muito passiva à narrativa.

Apesar disso, Jessica Harper é carismática e, mais importante ainda, bastante expressiva, o que nos coloca tanto na sua posição como peixe fora d'água na escola, quanto torcendo por ela.

No final das contas, é pelo mistério, visuais e pela trilha que fica na cabeça muito depois do filme ter acabado, que "Suspiria" prende o espectador curioso, mas o mantém engajado pela tensão e pelo choque das cenas de morte.

Infelizmente, o desfecho da narrativa é fraco, e a história tem alguns pontos que não tem resolução, mas o produto final como um todo é eficiente e visualmente lindo, certamente fazendo com que aquelas perguntas sem resposta saiam valendo a pena.